sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal:

Desde que o Samba é Samba(Caetano Veloso)

Int.: A7+ E5+/7
A7+ E7 A7+ A7/9
A tristeza é senhora
D7+ G7/9 C#7/13 F#7/9
Desde que o samba é samba é assim
Bm7 E7 F#m7
A lágrima clara sobre a pele escura
B7/9 E7
À noite a chuva que cai lá fora
A7+ E7 A7+ A7/9
Solidão apavora
D7+ G7/9 C#7/13 F#7/9
Tudo demorando em ser tão ruim
Bm7 E7/13 F#m7 B7/9
Mas alguma coisa acontece no quando agora em mim
Bm7 E7 A7+ E7
Cantando eu mando a tristeza embora
Bm7 C#7
O samba ainda vai nascer
F#m7 G#7
O samba ainda não chegou
C#m7 F#7/9
O samba não vai morrer
F#m7 B7/9
Veja, o dia ainda não raiou
Bm7 C#7
O samba é pai do prazer
F#m7 G#7/9-
O samba é filho da dor
C#m7 F#7 B7/13 B5+/6 Bm7
O grande poder transformador

sábado, 19 de dezembro de 2009

18, 12-12-09

Sexta 18

E em frente ao cemitério, enquanto o asfalto fica ocupado por carros parados, olho. O vermelho aceso do semáforo sinaliza próspero sincronismo dos pés no bréque. Bem no meio, envolvidos eles estão.
Ela, com seus cabelos brancos, dorme de boca aberta. Ele, ao lado, espera o verde sinal da continuidade do prosseguir.
E no meio desta tarde quente de sexta, onde tenho a seguir semana de ponteiros desgovernados de ordens alheias, olho.
A espera do ônibus laranja escrito "Card Alm" paraliso o corpo suado e quente. Sensação não se descreve o tempo todo. Sensação sem nome de sentimento é Aquilo, Isso, ...
De repente o Acaso pode tomar conta de corpo e criar (in)forma. E não há alarde de pensamento/escrita brusca.
Emsimesmado é quando? Se me invade o outro quando estou só. Será que emsimesmado se confunde com emsioutrado sempre? Esses outros que ultrapassa corpo delimitado por pele e pêlo. O outro é calor de sol, é boca aberta que desvenda nuances de língua, de céu(,) de boca.
A velha dormia no carro (segura) em seus sonhos de sonos paulistanos.

Sábado 12

Clarice me encontrou nesse sossegado sábado de dezembro. Cada vez me convenço que o pensamento pode ser literário e vice-versa. Vida obra de arte?
"Porque hoje é sábado"(V.M)... dia de curtir a casa, de curtir vida-eu e tudo que mais couber conectar. Dia de larica existencial com mesa farta!

"Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-la na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço."
"A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas, enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro chegasse."
"(...)Nas bilhas estava o leite, como se tivesse atravessado com as cabras o deserto dos penhascos. Vinho, quase negro de tão pisado, estremecia em vasilhas de barro. Tudo diante de nós. Tudo limpo do retorcido desejo humano. 'Tudo como é, não como quiséramos. Só existindo, e todo. Assim como existe um campo. Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e não nós, os ávidos. Assim como um sábado. Assim como apenas existe. Existe" ( A repartição dos pães - C.L.)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Registro mundo(s)

De repente vem uma força que clareia e confortabiliza o todo confuso, transformando-o e mim em paz. Um istante em que os embaraçados fios de diversas histórias, como se fossem nuvens, ganham desenhos já acabados - por mais que depois voltem a se formar em algo quê.
É a hora que o cachorro sarnento se cansa de coçar e encosta-se no canto da parede. Com a cara entre as patas parece suspirar, se esquecendo do incomodo de si.
Pelo chão, às vezes fica tudo espalhado: roupas recém tiradas de um dia suado de trabalho, textos antigos que li pela metade, trocos... e espaços vazios por onde posso pisar e me locomover.
Às vezes fica tudo arrumado: Dobradas, compactuo e empilho todo conteúdo que pairava como pensamento em mim. Encaixo diversas cores e origens, sólidas como massas de modelar - farinha com água e corante a base de suco e/ou compradas na loja de brinquedo da esquina. Modelo os movimentos deste corpo, as maneiras como irá deslocar ar e emitir som - ação e discurso.
Faço natação. Frequento terapia. Converso com loucos. Arrisco um novo romance. Acordo numa manhã chuvosa e tomo café-da-manhã ao som de rádio FM.
A prateleira encostada da nova sala flerta distraidamente com a parede que está a sua frente. Em si tem livros e em seu último andar mora (minha) samambaia com seus cabelos bagunçados. Há também um telefone sem fio e um toca-musica. Vias de se perder o olhar e ganhar caminhos invisíveis. Assim, sem TV, aprendo a construir relações de mundos... que me surpreendem.
Enquanto dormia, nesta madrugada, quatro estouros chacoalharmam meu corpo jogado na cama. As explosões vindas da rua fizeram clarão lá de fora. Pedi ajuda e ligamos para os bombeiros. Eu tremia e meu coração disparava. Os bombeiros disseram que isto era com "o" Eletro Paulo. Seja quem for esse moço, fiquei tranquilizado, e voltei a dormir. Aqui não há incêndios no momento. Só uma chuva que teima em inundar a Marginal Tietê. Estou longe.... e é dia.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A cidade e os olhos - Italo Calvino

São Paulo + outras São Paulo + Casa antiga + Casa Nova + coisas novas + coisas antigas = confusão e frenesi. Encontei-me com Calvino no banheiro. Aqui a chuva cria lagos no meio da rua e filas infindáveis de carros. Estaciona-se "amuntuado" dentro de ônibus que cheira gente molhada ou se corre deixando as gotas espessas espatifarem-se na minha roupa, na minha mochila com livros e agenda abarrotada, na minha pele. Um pouco de água + Liga O Foda-se + Dá gargalhada e enlouquece = Isso... e é isso!

"Ao chegar a Fílide, tem-se o prazer de observar quantas pontes diferentes entre si atravessam os canais: pontes arqueadas, cobertas, sobre pilares, sobre barcos, suspensas, com os parapeitos perfurados; quantas variedades de janelas apresentam-se diante das ruas: bífores, mouriscas, lanceoladas, ogivais, com meias-luas e florões sobrepostos; quantas espécies de pavimento cobrem o chão: de pedregulhos, de lajotas, de saibro, de pastilhas brancas e azuis. Em todos os pontos, a cidade oferece surpresas para os olhos: um cesto de alcaparras que surge na muralha da fortaleza, as estátuas de três rainhas numa mísula, uma cúpula em forma de cebola com três pequenas cebolas introduzidas em sua extremidade. “Feliz é aquele que todos os dias tem Fílide ao alcance dos olhos e nunca acaba de ver as coisas que ela contém”, exclama-se, triste por ter de deixar a cidade depois de tê-la olhado apenas de relance.
Sucede, no entanto, de permanecer em Fílide e passar ali o resto dos dias. A cidade logo se desbota, apagam-se os florões, as estátuas sobre as mísulas, as cúpulas. Como todos os habitantes de Fílide, anda-se por linhas em ziguezague de uma rua para a outra, distingue-se entre zonas de sol e zonas de sombra, uma porta aqui, uma escada ali, um banco para apoiar o cesto, uma valeta onde tropeça quem não toma cuidado. Todo o resto da cidade é invisível. Fílide é um espaço em que os percursos são traçados entre pontos suspensos no vazio, o caminho mais curto para alcançar a tenda daquele comerciante evitando o guichê daquele credor. Os passos seguem não o que se encontra fora do alcance dos olhos mas dentro, sepultado e cancelado: se entre dois pórticos um continua a parecer mais alegre é porque trinta anos atrás ali passava uma moça de largas mangas bordadas, ou então é apenas porque a uma certa hora do dia recebe uma luz como a daquele pórtico de cuja localização não se recorda mais.
Milhões de olhos erguem-se diante de janelas pontes alcaparras e é como se examinassem uma página em branco. Muitas são as cidades como Fílide que evitam os olhares, exceto quando pegas de surpresa."

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ela

Ela delicadamente foi segurada pelos braços com pêlos descoloridos da mãe e voou pela janela furada.O seu choro abafava a vista da calçada que chegava lentamente? Não sei.
Ela dorme na calçada movimentada de passos acelerados de saltos, de dedos, de pés encouraçados. Suspira e sonha com a corda que pulou outrora? Não sei.
A platéia grita: "puta". Durante isso, ela, escoltada por seguranças, desfila na Entidade Casa de Sábios Saberes com sua mini-saia comprada para mostrar sua coxa bronzeada de praia, sal e sol. Se envergonha? Não sei.
As dores são cada vez maior. Ela quer que esse mundo rasgue sua vagina com todas dores que lhe caibam. E um fio de navalha lentamente risca sua enorme barriga cheia de gente.
Ela vê a imensa luz. Depois se alimenta de leite quente vindo de teta.

Passageiro

Há tempos não passo por aqui. A areia do deserto estava agitada demais devido à forte ventania. O sol ainda continua extremamente quente, meu miolo ainda espuma gosma viscosa de susto forte. Estou quase de volta. Ainda falta terminar de tomar a água gelada do copo que esvazia-se. Aí sim a sede passará e poderei sentar a frente deste portal estranho, onde o encontro com as pontas do meu dedo causa bolhas. Por enquanto este é apenas uma falsa passagem, um colocar a cabeça para dentro sem deixar a mostra minha jugular. Protejo o pescoço com colar de pérolas feito por hippies que vivem no fundo do mar... Ensaio...

sábado, 3 de outubro de 2009

Um presente de aniversário que ganhei de Grá... Palavras de Caio F

Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:

Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.

Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.

Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável. Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.

Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.

Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.

Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.

Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se pôs. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.

Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.

Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco. Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.

Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.

Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.

Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.

Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.

Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.

Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!

Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também. Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.

Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração é teu.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O céu

Aqui, hoje, vejo aviões ao invés de estrelas. Mas não são pontos luminosos de aviões. São aviões.

sábado, 12 de setembro de 2009

Cidade Absurdo

Vejo uma árvore carregada de amoras em uma esquina da Consolação. Algumas pisadas no chão deixam borrões na calçada. Doces? Nos galhos, algumas ainda meio verdes, meio vinho, meio sede, me olham enquanto sentado no ônibus...
Já tentou contar as janelas que se viram para rua? Quem está por trás delas a não olhar? Quem é o moço dentro da cozinha apertada que espera a última gota de café amargo pingar do coador ao copo que já foi com milho? Pia de mármore rachado, poças.
Tiro da mochila deitada no chão fotos que acabaram de se revelar. E é tudo tão novo, tão louco. Como é que vim parar aqui?
Já na Paulista, chego até o décimo quinto andar. Comedoria? Queria mesmo era acender um cigarro enquanto observo mar de prédios e neblina tóxica. Por que não se pode fumar aqui em cima? "Por causa da lei, por causa da lei" - coloca a cabeça para fora da nuvem o senhor engravatado de barbas brancas.
Aos poucos escurece. O tal de Oury fala, mas dos fones que estão em meus ouvidos ouço apenas a voz macia da senhorita Tradutora. Ela falou que ele falou que o Freud falou isso: "Aí onde estou, devo tornar-me".

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

As unhas dos paulistanos andam roídas até a carne. A minha do dedão do pé ganha moldura de meia preta de algodão...Leptospirose? Gripe suína?
Deixo os pés quase descalsos em contato com a água que corre ou tento escondê-los nos meus sapatos de couro para assim fingir que não as toco?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Esse blog tem sido muito estranho. Sei lá....acho que a vida é estranha, só deixa de ser quando se torna memória, linearidade de intantes que seja, que foram, que se transformam em histórias registradas, acessíveis. Mas esse blog tem sido muito estranho. Talvez por isso, as memórias chegadas até aqui são recortes não somente de instantes, mas de longas conexões de agoras, de tempos de se confundir e com isso criar conexões novas. "to ficando cego, pra poder guiar", como já cantava Tom Zé.
MAs na verdade, nem sei porque falar desse blog. Nem sei o que é esse espaço que existe de vez em quando. Nem sei o que não existe de vez em quando. Alguem sabe? Instabilidades? Ou conexões que loucamente grudam, escorrem, colorem e descolorem a paisagem da cidade?
Trabalhar em um Caps está sendo acesso e encontros de histórias intensas, momentos vibrantes. Que lugar é esse? Resposta indefinida. A cidade cheira instabilidade....os entres lançam leves rabiscos. Se arriscam a se misturar... e nessa hora sou parte esta alquimia proposta, sem espera de fórmula e resultados.
A cidade ganha outros níveis. No ônibus, olho de cima as varias ruas que se cruzam carregadas de faróis.
Cada vez mais os lugares tornam-se contorno de corpo. membrana Plasmatica de sabão. Reluzente com o que vem de fora.
Hoje recebi meu primeiro salário.... e confesso que fiquei perdido.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ô dia, repete?

Todo dia repete o que? O dia?
A lotação e a estrada lotada de caminhão. Asfalto quente, fumaça, uma solidão.
A rua é via, é correria. Informações de vidas que caladas deixam nos vidros engordurados de cabelos amanhecidos restos de olhares. Olhos sem brilho boiam nas faces apáticas, sombreados por olheiras cansadas, causadas de tanto olhá pra tamanha quantidade de gente a andá, a pará, a entrá, saí e levantá.
Duas putas sentam após o fim de expediente, já é manhã.
Uma cega declama seu discurso ensaiado,já é tarde, não percebe que o ônibus está vazio. Senta-se ao meu lado e me expreme com seu não-ver que faz com que os sons dos aviões, motos e outros diversos motores gritem aos meus ouvidos.
O garoto sai da cadeia após dois anos de prisão. Nunca havia visto o modelo novo do carro que passa. Irá tomar café-da-manhã na casa da mãe. Ela não sabe. Ele está feliz.Já é manhã de novo
Wisnik sai da caixa de Mp3 através de um cordão. "Anoitecer":

"É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.

É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.

É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.

Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo."

sábado, 8 de agosto de 2009

É inverno, e daí?


(foto da katia...linda!http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom.aspx?uid=7429907756300229000&pid=1249565284983&aid=1249539790$pid=1249565284983)
E aí, soltas no ar, as várias versões de mim se confundem com a paisagem. Cidade loucamente com sua velocidade desprópria, imprória. Mas imprópria a quê?
O basal de mundo que incessantemente e insensatamente tentamos prevêr se dissolve em meio de partículas são cinzas e azul petróleo.
Desapropia o que há seculos inventou esse conceito nada natural de propiedade. Somos a invasão do que não tem dono por natureza. As forças que compõe o contorno apoiético que se faz meus eus é risonho como mar que se destoa em formas: velocidades, espuma e força.
SIm! Por todas as partes gritam os "sins". Sim pelo que há por vir: incerto, nublado, mas tocante.
Afeto que desvai...
Vivo comigo nesta aventura de se viver...
benvindo...sempre vindo ...se movimentando pelos toques e não pelas previsões....

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o MatitaPereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira

É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
É inverno, e daí?

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã

É inverno, e daí?
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé

É inverno, e daí?
É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã

É inverno...e daí?
É a promessa de vida no teu coração
pau, pedra, fim, caminho
resto, toco, pouco, sozinho
caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração.

domingo, 26 de julho de 2009

Lua nova

Encho meu copo meio cheio de água com sobras de outros copos já bebidos.
Começo a pensar que é preciso lembrar que no fundo você é muito sozinho. E você que vai ter que ir atrás, se movimentar, mexer esse esqueleto coberto de carne, músculo, banha e eticétera ( expandindo ao invisível e aos ocos interiores).O pensamento é interrompido pela voz dela que pergunta:
-Você acha que eu ponho um tênis ou não precisa?
-Eu acho que talvez você vá pisar em poças.
Saímos juntos pelas ruas encharcadas de chuva - Sozinhos.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

DENTE

As mudanças começam a ganhar corpo. Com isso, percebemos que a vida tem velocidade. Aventurar-se por cenários novos. Observar o tempo que passou.

Assim foi naquele dia, ao esperar o chamado que vinha da caixa de som abafada. A sala era clara, cheirava a éter. Pessoas ao meu redor folheavam revistas com suas mochilas cheias de livros e bolsas com pacotes de lenços umidecidos. Sentadas também esperavam seus nomes serem anunciados.
O relógio redondo a cima da janela era mirado por cabeças. Observavam em intervalos curtos de tempo. Sincronizadamente dessincronizadas.
Antes de obturações, finas agulhas perfuram gengivas macias afim de evitar a dor - anestesiamento.
No canto da sala uma Comigo-ninguém-pode esverdeja. Folha que intoxica quem a come. Move-se imperceptivelmente na direção da janela de viro, abaixo do relógio redondo.
"Pérola de Aquilo, sala 3. Pérola de Aquilo, sala 3". Ecoa o som até... A moça levanta-se e caminha. Em seguida ouço ruído de furadeira de dente.
De cinco em cinco o ponteiro anda. Sempre corro para não me atrasar e como resultado ganho adiantamento. Aí preciso me distrair. Mas distrair de quê?

Ao sair do dentista sento na sargeta e acendo o último cigarro do maço.
As mudanças começam a ganhar corpo. Com isso, percebemos que a vida tem velocidade. Aventurar-se por cenários novos. Observar o tempo que passou.

O ônibus 332, movido a biodiesel, aponta depois da curva da rua.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Esvaziando o saco cheio

Décima oitava vez tentando postar alguma coisa. E o movimento é sempre de escrever e apagar, registrar e desaparecer, imprimir e jogar fora. Vai ver porque é assim que as coisas se evidenciam no momento de agora. Parece que tem muita partícula solta no ar... e o que fazer com tudo isso?
Organizar em letras, pensamentos e linearidades parece tarefa da mais enfadonha. Olhos e dedos se cansam um do outro. Aí me vejo assim: uma meta escrita, uma meta vida, uma meta meta meta meta coisa.
"Para frente e avante". Tento me convencer que sei o caminho por onde piso. Mas os registros não colam e pareço encenar a lamúria tendo raiva do ato. Cansei de correr em círculos, de ir e vir procurando no cenário conhecido o que pode fazer desvio. Como se eu não houvesse percebido aquela fruta doce no galho escondido, aquela seta ou aquela hora que anunciava o novo. Tudo está desgastado e enjôo-ativo.
E de uma vez por todas vou parar com esses vícios que insistem em desejar o desejo que nem sei se é meu, que nem sei se É eu...
Sim, eu assumo, mora em mim a dezorganização e o gosto pelo movimento causado por ela: movimento produtivo. A dezorganização como traço que não busca nada além de sua existência, que anda e cresce como as árvores do cerrado: TORTA. Rastros de contornos abstratos, porém belos, vivos e impactantes.
Curvas e laços. Estou extremamente cansado de gente careta e chata (me incluo). Cansei de chamadas orais, entrevistas, provas. Querem me conhecer? DE_SEN_CA_NA. Vai por outras vias, use outros verbos... Se estiver afim de me encontrar, de prosear, de produzir, de jogar...Beleza! Mas não me venha com decifragem, livros de procedimentos e manuais de primeiros socorros... A vida é mais simples que todas essas baboseiras, é menos cansativa do que a busca pela adaptação perfeita. E quanto ao sofrimento? Não se iludam, meus caros, ele dá passagem à vida, ao continuum, a outros ares.
Pronto. Afeto que sai é via que se cria. Agora, caminho...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

-o que vem desse sopro de agora?
-Não sei, mas sinto uma leve brisa.
-De onde vem?
-Acho que vem lá de longe, da onde desconheço e nunca fui. Às vezes me bagunça o cabelo por trás, Às vezes me embala o sono com seu assobio frio.
- Mas digo desse sopro de agora.
- Agora? Não vem de lugar nenhum. Ele apenas vai. Sinto como se saísse de meus poros.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Zoé

O vento abre a porta do quarto onde estava a dormir. Ao acordar percebo que é frio. Os olhos se fragilizam com o clarão cinza que vem do sol coberto de nuvens. Acordo.
Dentro da casa estou só. Sem acompanhamento de trilha sonora nem cheiro de comida que está em fogo brando. Sem fumaça de insenso nem andares, respirares, falares de outro.
Lá de fora chega barulho de furadeira e ônibus a freiar. Luminosidade de raios solares que brincam de entrar e sair por entre os cômodos.
Desço pela escada que me leva dos quartos e banheiros até a sala e cozinha. Abro todas as janelas que se fecharam em madrugada escura e mais gelada que agora. Ligo a vitrola e escuto música - balada, chorosa, dançante, ruidosa. Leio livro, anoto. Preparo o almoço - corto substâncias, cheiro tempêro, ligo chamas e toco em água.
A meu convite elas se juntam ao meu dia. Cada coisa que se move e afeta. Invade a casa de recheio. Me acompanha. Sem ninguém.
É calor que brota. Som que vibra meu ouvido. Autor que diz em pensamento meu, no eu. É cigarro que queima vagarosamente enquanto olho as folhas que se mexem. Minhas plantas dão sinal de vida. Explodem em novo - brotos, folhas de um verde claro.
Estou acompanhado de mundo. Eles correspondem da melhor maneira. Respeitam minha solidão com velocidades múltiplas. Contornam meu eu com vida cósmica.
Eu sou apenas aquele que acorda. E isso não é pouca coisa.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Tempos de outonar...

E os sonhadores? Podem viver em terra firme, de pé fechado em calçado e abrir de olhos compassados com despertador de manhãzinha? Sim, meu caro!
MAs por enquanto vou acordando um pouco depois das nove, almoçando dia às 12, dias às 15. A noite sopa de chuchu, de dia músculo cozido com suco de laranja e alhos...alhos inteiros.
Assim vai sendo ... e a casa ganha goteira, e o frio invade a janela que se jogou em dia de risos, que se multiplicou em cacos cortantes de madrugada quieta.
Chá mate, filmes pertubadores e combinações de gargalhadas, de choros amigos, ligações importantes que dirá se vamos ou fico, outras ligações bem menos burocráticas que gritam, que cantam "vamos, Vamos". Pra onde não se sabe...
Produção de si... os sonhadores correm por mim! Ainda bem...

Fala, amendoeira (1957) Carlos Drummond de Andrade

«Esse ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza - essa natureza que não presta atenção em nós. Abrindo a janela matinal, o cronista reparou no firmamento, que seria de uma safira impecável se não houvesse a longa barra de névoa a toldar a linha entre o céu e o chão - névoa baixa e seca, hostil aos aviões. Pousou a vista, depois, nas árvores que algum remoto prefeito deu à rua, e que ainda ninguém se lembrou de arrancar, talvez porque haja outras destruições mais urgentes. Estavam todas verdes, menos uma. Uma que, precisamente, lá está plantada em frente à porta, companheira mais chegada de um homem e sua vida, espécie de anjo vegetal proposto ao seu destino.

Essa árvore de certo modo incorporada aos bens pessoais, alguns fios eléctricos lhe atravessam a fronde, sem que a molestem, e a luz crua do projetor, a dois passos, a impediria talvez de dormir, se ela fosse mais nova. Às terças, pela manhã, o feirante nela encosta sua barraca, e ao entardecer, cada dia, garotos procuram subir-lhe o tronco. Nenhum desses incómodos lhe afeta a placidez de árvore madura e magra, que já viu muita chuva, muito cortejo de casamento, muitos enterros, e serve há longos anos à necessidade de sombra que têm os amantes de rua, e mesmo a outras precisões mais humildes de cãezinhos transeuntes.

Todas estavam ainda verdes, mas essa ostentava algumas folhas amarelas e outras já estriadas de vermelho, gradação fantasista que chegava mesmo até o marrom - cor final de decomposição, depois a qual as folhas caem. Pequenas amêndoas atestavam o seu esforço, e também elas se preparavam para ganhar coloração dourada e, por sua vez, completado o ciclo, tombar sobre o meio-fio, se não as colhe algum moleque apreciador do seu azedinho. E como o cronista lhe perguntasse - fala, amendoeira - por que fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim particulares, a árvore pareceu explicar-lhe:

- Não vês? Começo a outonear. É 21 de Março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono.Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.

- E vais outoneando sozinha?

- Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.

- Somos todos assim.

- Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exactamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.

- Não me entristeças.

- Não, querido, sou tua árvore-da-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonizes com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-te com dignidade, meu velho.»

sábado, 16 de maio de 2009

Amargo

Amargo. Assim sinto o mundo. Imundo de restos de cascas, peles, unhas e pêlos. Percebo, mesmo no invisível, todas as sobras destes instantes que passaram. O mundo também é feio. É feito de escarro, do irônico que se espalha por toda a sala, de sentar desconfortável em sofá cheio de espumas velhas que causam alergia.
O mundo também fere. É ferida. É pus de rua. É grito de sofrer e sofrimento de calar-se. É se debater. É se prolongar derretendo-se. É não se querer e pensar em pular. Se admirar imaginando o voar. Quando o sufoco parece não mais só sufocar, mas também deseja empurrar, deseja matar.
Mas o que matar? Matar a mim, o mundo, o agora? A proximidade entre morrer e se sentir morrendo se faz tão presente que não sei mais se há diferença. Fúnebre pensar.
Ele então aluga um quarto no décimo andar daquele hotel no centro da cidade turbulenta. Privado em si olha de cima todo o público recheado de sons de buzina e se entrega a eles. Se joga, e durante alguns segundos sente-se bem. Antecede a morte sensação de viver. Neste instante não mais se morre. Aproveita o ar rasgando sua face e não passa filme de sua vida. Ele apenas olha como a calçada se aproxima com velocidade esclarecedora. Era uma risca, era uma árvore, era uma cesta de lixo. Repara nas cores, nos traços desenhados na rua, nas linhas que se cruzam, nas luzes que se movimentam com o seu cair. O que menos queria neste momento era pensar no que passou. O que quer é sentir de novo a possibilidade de olhar o agora de um jeito menos sufocante. Quer o agora com vento e não mais com água podre parada de esgoto.
O mundo também é feio. O que vem mesmo depois da morte?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Fumar...

Seca, a fumaça chega aos lábios por via de dois dedos longos erguidos. O cigarro a cospe dentro de mim. E num beijo demorado a antropofagizo durante o percurso que me faz de via. E quando não mais somos juntos, a sopro. Agora nela também sou mundo. Por ares ela voa mais dissipada, mais suscetível. Ao vento, mais misturada. Se perde no ar, se ganha no ar.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Me solta de mim!

E no rebuliço que é Vida, pisa. Pé direito e pé esquerdo, rodopiando a saia na beira do chão.

Coloco a mochila nas costas e sumo um pouco de mim no agora.
Estrada que me leva embora. Embora de lá que nunca fui, indo.
Sondo cidades que desabitam raiz. Brinco de morto-vivo. Perco, vivo.
Durmo no chão, bem. Bem no chão. Durmo no frio chão da cidade de São paulo. Durmo bem no frio chão da cidade de São paulo. Ao som de violino, cercado de outros sonos. Bem.
E assim foram semanas de presente para mim. Semanas de caramujo. Sendo casa, sendo corpo, sendo mala.
Por mim viajei amigavelmente. Para que o sair e o ficar ganhassem seus devidos lugares, apenas lugares. O farelo que fica por Onde-quer-que-seja é sobra dispensável. Apenas me levo com massa que faz miolo e casca. O que cai e se espatifa no ar é para não deixar gosto, para não me ser mais.
Pois é na rua que minha dança pesa, leve. Levo.
Pois é de perto que distancio de mim a vergonha - invenção besta e ressentidamente seca.
Pois é na rua que minha dança leve pesa. E só na rua, sem quartos particulares, sem endereços fixos, sem colchão próprio e planta minha que pude distanciar-me de mim.

"Me procurei a vida inteira e não me achei -pelo que fui salvo" (m. barros)

Por mim viajo...

E mesmo sem depositar vontade nos dias, eles continuaram andando.
No meio da correria houve então uma época que no meio do meio-dia a bala de canhão acertou o relógio da Praça Central.
Na inércia, pequenos estilhaços de ponteiros se cravaram em placentas pré-fabricadas.
A verde gosma escorreu pelos poros que antes se entupiam de poeira. Os pêlos nasceram. E somente após o instante que perceberam o crescer dos pêlos, o tempo pode ser esquecido. Pois de mim saiu confuso o mundo. E este, neste, deste dia eu fagocito o mundo e ele ora deliciosamente ora não me enfia guela abaixo...

Campinas-Guaíra-Assis-SãoPaulo...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Companheira singela


E aquele rosto me surpreendeu de tamanha beleza e delicadeza, mesmo tendo olhado nele por tantas vezes sem decodificar nada... Sim! Ela é uma companheira.
E não me importa mais se no mundo pareço perdido, pareço sem rumo, se a conta irá ser além do barato. E é na conversa do bar, no dia que a porta abre repentina e entra um ar quente pela nossa casa, cheio de vida....Sim, ela é companheira.
E assim vamos escrevendo uma história linda de viver...cheia de saco-cheio, cheia de "ai-meu-deus-fudeo"...E assim vamos escrevendo com instantes, momentos, lugares verde-laranja, campinas-praça, miséria-fartura....
Sim, ela é companheira!!!!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Resistor de chuveiro

Acabei de matar mais um bicho de sete cabeças...rs
Sempre fui um cagão. Tenho medo de panela de pressão, de trocar butijão de gás, de acender o forno, e coisas do gênero, assim por diante.
Já ouvi histórias bizarras de uma tia do amigo de um vizinho que perdeu a cabeça cozinhando feijão. Outra em que a panela explodiu, perfurou o chão e foi parar no apartamento de baixo. Coisas na qual nunca soube se eram verdades, mas que me assombravam a cada tssssssssssssssssssssssssssssss...ts ts ts ts...que soava da cozinha... e sempre abrir uma tampa tornou-se com o tempo exercício de extrema coragem para mim... e a cada tampa aberta me sentia aliviado por enfrentar esse medo que parece bobo, mas pode ser "ex-tre-ma-men-te" perigoso (ouço minha vó falando)...rs
Outros medos fui perdendo com o tempo. Acender o forno agora tiro de letra. Apesar de lembrar da cena em que minha mãe pulou para trás junto a um buuuuuuuuuuuum e um clarão que vinha da cozinha...Ela sobreviveu!
Acredito que hoje foi um desses dias marcantes na história de dasafiar a si diante de repertório de referenciais recheados de histórias mirabolantes de horrores e catastrofes (ufa!). hoje, pela primeira vez na vida tive a ousadia e coragem de trocar o resistor do chuveiro...
Após comprar a estranha peça envolvida por um plástico. E depois de perguntar ao vendedor como faria tal substituição, chego em casa animado com esta aventura.
Primeiro passo: desligar a caixa de força e deixar a casa sem energia elétrica. Testo apertar o interruptor das lâmpadas e nada acontece. Pareço estar seguro. Mas e se o chuveiro for ligado a uma caixa especial que ainda não conheço? E se alguém chegar e ao perceber que as luzes não estão acendendo ligar a caixa sem me ver no andar de cima pendurado no chuveiro?
Lembro de mais uma história em que o cara levou um choque enquanto tomava banho e ficou grudado eletrocutado... e o engraçado eh que ao contarem essa história para mim o mais enfatizado pelas pessoas era o fato do sujeito estar pelado... Diziam: "imagine que constrangedor, ele estava pelaaadãããão".. enfim...
Começo a estranha função de recriar uma máquina que transforma água gelada em quente. Conforme indicação do vendedor, desemboco a primeira parte do chuveiro. Desemboco uma segunda parte do chuveiro E me encontro no cerne do problema. A célula de toda questão.
Leio o manual de instruções para não haver falhas. Transpiro. E toco o antigo resistor enferrujado e com ar de cansado. Retiro de sua locação. E com a sensação de estar indo bem, enfio no chuveiro a parte que lhe faltava para esquentar meus banhos quentes de dias mais-ou-menos frios, como o de hoje.
Ouço a voz do vendedor dizendo " Não ligue o chuveiro sem antes preenchê-lo de água, senão queima, senão estraga o resistor, ". Senão.. (viche, penso). Ligo o chuveiro desligado, impotente, servindo só de passador de água...
Logo após ligo a força. As luzes se acendem. E vou correndo ao banheiro verificar se a mágica havia se concretizado. E sim. A água saia morna!
Tiro a roupa. Pego o som. Escolho a trilha sonóra do filme da Amelie Polan...E depois de uma semana tomando banho de canequinha, me enfio embaixo do chuveiro e viajo...feliz da vida por ter conseguido não resistir mais ao resistor... Se bem que o banho com alecrim foi muito bom... e nessa semana certeza que economizamos na conta de luz!

Banho de caneca

O que acredita você? Nisto, que os pesos de todas as coisas precisa ser novamente determinados.

O que diz sua consciencia? "Torne-se aquilo que você é".
Nietzsche

Viagens no "A Gaia ciência". Tomando banho com água esquentada com alecrim- pq o chuveiro queimou e não comprei ainda um resistor novo- e comendo bolo de banana com uma calda suculenta em sua superfície...enfim...vivendo...
NA expectativa da próxima viagen.... Assis....retorno à cidade onde vivi cinco anos de minha vida intensamente...Rever amigos, ouvir boa música e me encontrar com combinações que há tempos não visualizo-tateio-escuto-degusto...Poros abertos mas sem medo de me espantar com uma cidade que talves nunca fui......ser turista em cenário conhecido....Assim como as pessoas, as cidades também mudam com a distancia e o tempo. Poros abertos e postura de jovem!
Acho que sairei da frente desse computador e irei comprar um resistor para o chuveiro. Banho de água esquentada com alecrim é gostoso....mas as vezes precisamos mesmo é de um tempinho maior embaixo de água quente...
Fui, sem mais delongas...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um estranho "ameaço"


As portas das praças estão abertas. Mas ninguém se atreve a atravessá-las, e menos ainda em parar embaixo de alguma árvore e sentar. Vejo apenas, da janela de meu apartamento, sombras solitárias balançadas pelo vento da madrugada.
Aonde aprisiona-se cada mundo?
Em cada casa acompanhado de outros mundos supostamente conhecidos... MEU computador, MINHA televisão, MINHA família, MEU cachorro e assim por diante.
Após ouvir histórias de assalto pela redondeza de MINHA casa fui consumido por um andar diferente de MINHAS pernas pelas ruas. Desconfiado, parecia que os passos acelerados poderiam me levar rapidamente ao território que aproxima o Eu ao MEU. E estrangeiro de minha raça, humana, vejo naquele que caminha uma suposta ameaça, um suposto invasor de mim. E não é apenas medo de ser abordado com um revólver ou um estilete. Vejo nas ruas da cidade, no público que compõe o público, ameaças de mulheres que também aos passos rápidos enxugam lágrimas que brotam de si. Me ameaço quando corpos estendidos pelo chão se tornam meros objetos de uma decoração invisível. Me ameaço quando me perguntam as horas e quando me pedem moedas.
Nos sinais, ao atravessar as faixas brancas pintadas no asfalto negro, vejo os carros -à espera do sinal verde- simultaneamente fecharem suas janelas para que não haja invasões, devido a ameaça.
Mas que ameaça é esta que no repente do andar, que no virar do pescoço se mostra, se sente? não sei o que ela é, mas invisivelmente vem se esconder em mim.
Como se pelas ruas os mundos desconhecidos tivessem grades. Como se eu fosse bexiga que lentamente se esvazia.
Uma ameaça-vírus que se propaga no invisível. Com cada notícia de assalto, com cada muro erguido em condomínios, com o espetáculo gerado por crianças arremessadas de prédios e namorados que matam amores.
Mas não são notícias, nem assuntos que me invadem como se em mim houvesse apenas receptáculo de horrores. As ameaças perduram pois nelas consigo firmar o confortável lugar do comodismo.
Sendo assim, me ameaço. Me ameaço para tentar salvar esse cotidiano redondo, sem relevo, que carrego todo dia. Para que somente em minha companhia esteja o conhecido, o previsível... As praças de madrugada continuarão vazias. Nos ônibus os assentos com dois lugares vagos serão preenchidos primeiro. Nas filas continuará o solitário pensar de vidas ameaçadas.

Vamos lá, seres humanos! A verdade não existe, se desfaz no encontro com o novo.
E grito o que em mim me ameaço, para que eu possa me dissolver, me misturar, me expandir com um "oi", ou então com uma afirmação: "Você é meu companheiro"...e assim estabelecer diálogo. Nada tem que ser como parece ser...

Diálogo (Caio Fernando Abreu)

A: Você é meu companheiro.
B: Hein?
A: Você é meu companheiro, eu disse
B: O quê?
A: Eu disse que você é meu companheiro.
B: O que é que você quer dizer com isso?
A: Eu quero dizer que você é meu companheiro, Só isso.
B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.
A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.
B: Não é disso que estou falando.
A: Você está falando do quê, então?
B: Estou falando disso que você falou agora.
A: Ah, sei. Que eu sou teu companheiro.
B: Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro.
A: Você também sente?
B: O quê?
A: Que você é meu companheiro?
B: Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei.
A: Atrás do companheiro?
B: È.
A: Não.
B: Você não sente?
A: Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. E você, não?
B: Não. Não é isso. Não é assim.
A: Você não quer que seja isso assim?
B: Não é que eu não queira: é que não é.
A: Não me confunda, por favor, não me confunda. No começo era claro.
B: Agora não?
A: Agora sim. Você quer?
B: O quê?
A: Ser meu companheiro.
B: Ser teu companheiro?
A: È.
B: Companheiro?
A: Sim.
B: Eu não sei. Por favor não me confunda. No começo era claro. Tem alguma coisa atrás, você não vê?
A: eu vejo. Eu quero.
B: O quê?
A: Que você seja meu companheiro.
B: Hein?
A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.
B: O quê?
A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.
B: Você disse?
A: Eu disse?
B: Não, não foi assim: eu disse.
A: O quê?
B: Você é meu companheiro.
A: Hein?
(ad infinitum)



Texto desencadeado após encontrar-me com o filme "O Anjo Exterminador", 1963. Dir.: Luis Buñuel

O solitário - Nietzsche, 1882

Para mim é odioso seguir e também guiar.
Obedecer? Não! E tão pouco -governar!
Quem não é terrível para si, a ninguém inspira terror:
E somente quem inspira terror é capaz de comandar.
Para mim já é odioso comandar a mim mesmo!
Gosto, como os animais da floresta e do mar,
De por algum tempo me perder,
De permanecer num amável recanto a cismar,
Seduzindo-me para voltar a mim

sábado, 18 de abril de 2009

Goles de si

E ao abrir os olhos depois de um repentino piscar viu à sua frente as mesmas cores com outras tonalidades. Sentiu-se confortavelmente possível pois sentia que mudava a temperatura do ar, que um pássaro ao longe naquele instante resolveu cantar e que a senhora que cortava a rua soltou um arroto expressado de maneira tão grave que aquele corpo aparentemente frágil guardava em si a força de mover o ar, com força.
E então percebeu que a explicação é mero exercício banal e descrever é síntese entre corpo e mundo.
Coçou a bunda e caminhou mais um pouco.

A folha balança no alto. Sem pretenção de cair.

O vento sopra. De onde veio? Não importa.

Eles se encontram. E num doce bailar se juntam. E se levam. A folha e o vento.

Organizou a pia para lavar a louça. Separou em um canto todos os talheres. As panelas engorduradas preencheu com água e detergente e as colocou para o depois em cima do fogão. Copos próximos e pratos empilhados. Enxarcou a bucha com espuma. Abriu a torneira e deixou a água jorrar pelas suas mãos. Lavou. E aos poucos tudo se transformara. Todas as louças livres de restos. Com comida crua repreencheu . Ao fogo misturou, temperou e degustou....

Ao ouvir o telefone tocar, abaixou o som da vitrola - o trecho era " procissão, espalhando todo povo pelo chão...". Atendeu e só escutou o ruído de uma ligação perdida. Foi à geladeira, abriu uma lata de cerveja e de gole em gole pensava no que sentiu da Vida...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Minhas páginas em branco

A vida que se conta como se fosse um livro separado por capítulos deixa entre cada fim de trecho um buraco que realmente somente páginas brancas podem preenchê-lo. É como se em um certo momento eu pingasse a caneta marcando um ponto final e depois virasse a folha e recomeçasse a escrever a continuidade de um corpo que não é mais o mesmo, mas representa o mesmo personagem. Agora vestido de nova roupagem e olhado por outras nuances de olhares. Como se ao terminar o capítulo intitulado criança apagassem as luzes e ao abrir novamente a cortina surgisse um adolescente desengossado, um ator ainda terminando de se vestir para contracenar com um cenário que venerava desde antes e que agora o coloca diante de holofote intenso, de falas onde o usual são palavras que seu idioma até então desconhecia.
Me disseram que poderia escrever minha história da maneira que eu quisesse - lembro quando isso foi dito minutos antes daquela luz de mesa cirúrgica ofuscar meus olhos que somente enxergavam vermelho. Também lembro do médico dizer para a enfermeira que eram 07:05, para que registrasse meu primeiro nascimento, e consequentemente meu primeiro falecimento. Não poderia mais habitar o antigo teatro... e neste instante esguelei de chorar, apesar disso não me lembrar, fiquei um tanto surdo com o grito de mim...
-Escreva o livro, mas respeite os limites dado a cada capítulo. Não ultrapasse o número de páginas, não ultrapasse o tempo de escrita...seja rápido, corra atrás daquele que você será daqui a pouco...Vá se despindo, vá vestindo.... Nãããão! não sobreponha nem fique pelado... corre, corre que agora vai recomeçar!
E já estava eu de novo sendo outro...ora de barba, ora me embreagando de primeiras masturbações, beijos, sexo...
E no enrosco de cada página branca que precedia cada capítulo "novo" havia momentos lindos que tenho a sensação que esqueci. E aquém das vozes que ditavam o tempo que se esgotava havia choros frenéticos gritados na cochia. Nada mais que o encontro entre meus eus que se entendiam com linguajar próprio...Pudia acordar-me (tanto no que diz de contratuar como de despertar) comigo mesmo que multiplos elementos podem sim habitar o mesmo corpo. E a subita imposições de vozes eram somente ventos exteriores que inventavam espaços e que serviam carapaças... O grito cessava, assim como o primeiro choro, contudo deixavam ressonancias que tremiam não mais pele visível, mas carne, visceras... e sempre nas cochias me encontrava com os outros eus...que juntos choravam, brincavam, sorriam das vozes. Vozes que eu fazia questão de torna-las surdas. Elas não conheciam meu alfabeto...
E assim agente vai vivendo... Apesar daquilo que pensa ler-nos. Eles não sabem de nada... nem eu mesmo sei.
As páginas brancas na verdade estão escritas de branco, eu lembro muito bem quando as escrevi. Tornaram marcas invisíveis com o tempo, mas ao tocar o papel eram recheadas de textura úmida. E confesso que o livro inteiro está escrito de branco. O que hoje escrevo aqui é apenas a versão que a voz acha ser a real...
O que detêm a mistura de todas as cores é o branco ou o preto?

Texto desencadeado após assistir "Buenos Aires 100 Km", 2004. Dir. Pablo José Meza

quarta-feira, 15 de abril de 2009

...



"Não tem um, tem dois
Não tem dois, tem três
Não tem lei, tem leis
Não tem vez, tem vezes
Não tem deus, tem deuses
Não tem cor, tem cores
Não há sol a sós"
Texto: Arnaldo Antunes
Foto: Gui (Lago Maracá em Guaíra-SP)

...

"Existe algo terrível na realidade, eu sei oo que é, mas não quuero dizer"
Almodovar

E nesse ridículo que é viver saio em alta velocidade pelas estradas que me ligam do agora a outras horas. Fugir às vezes é ato de coragem. Ato de renúncia ao que é dado como imposição de ser. E com maquiagem pinto a face preta-e-branca da realidade. O caos ganha gosto de vinho branco seco gelado e no fundo de toda perdição encontro em minha casa de sempre uma criança de dois anos que sorri, brinca e me chama de bobo...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

o balançar de uma menina...

Quando olho pela janela vejo a menina dançando. Por meio de ares, pulos, andares. Ela não sorri, apenas fecha seus olhos e deixa todas as notas, batidas e ritmos serem seu corpo. Ela é o seu corpo, não faz dele instrumento de mentiras para ninguém. A menina dança.

Tudo ao seu fundo é estático: Árvores, céu e um homem que vende balões. Ninguém a vê. São corpos ilustrativos, destes que passamos sem existirem, sem esbarrarmos, que marcham. É tudo cenário. Somente a menina existe de verdade, pois ela está de olhos fechados.

Sua dança é uma mistura de vento e notas musicais. Seus braços parecem pêndulos e suas pernas são como varetas jogadas de mãos dispostas a brincar.

Sem parar, a música toca em um ritmo incessante e nada muda em meus olhos, sempre vejo a menina dançando entre cenários humanos. Mas ela está de olhos fechados e só o que ela vê é de verdade. Ela é seu corpo.

terça-feira, 7 de abril de 2009

"A relevância do eu-interior" e|ou "Carcaça de veludo"

Sim, agora me conhecerei por dentro de verdade. Tomei esta decisão por reconhecer a importância de poder ver as formas e cores que em mim habitam. Afinal de contas a maioria das pessoas já tem acesso a seu conteúdo e me disseram que alguns profissionais, que estão começando neste ramo agora cobram preços bem reduzidos e parcelam em muitas vezes o serviço completo.

Lembro do meu espanto quando pela primeira vez ouvi falar destas técnicas. Foi em uma das exposições de um tal museu de arte contemporânea pós-pós-moderna de alguma cidade conhecida por seu espírito de vanguarda. Caderno de Cultura do Jornal do estado, era isso, há mais ou menos uns dezesseis anos atrás. A reportagem localizava-se na metade da folha inferior daquela página, algumas fotos mostravam o trabalho artístico. Achei interessante, fotos de vários ângulos, focos e enquadramentos. Em entrevista, o artista explicava que gostaria de lançar um novo olhar ao que era de mais profundo nos seres humanos. O trabalho consistia em expor ao público fotos de pessoas no meio de processos cirúrgicos. O fotógrafo tentava se deter ao que aparecia depois dos cortes, ao que vinha aos olhos depois de ser rasgado. Contou que as pessoas que permitiram ser fotografadas ficaram lisonjeadas com o resultado daquela experiência, pois tinham a sensação ao se depararem com o que lhe preenchia por dentro, de que naquele momento todo um recheio tomava conta de um vazio que carregavam durante toda a vida.

O assunto apareceu em algumas rodas de conversa em bares e na hora do café-cigarro. Alguns achavam extremamente estranho, e riam desta “maluquice”. Outros diziam que podia ter à ver mesmo, pois estudos anteriores revelavam muito de alguém através da leitura da íris ou das mãos ou dos fios de cabelo e acreditavam que talvez por dentro que encontraríamos as explicações de cada existir e o estancamento de todo sofrer. Depois de algumas semanas o assunto não mais foi pauta, no lugar dele vieram o fim da novela das oito, o casamento de Suzy Malaquias e depois três pontinhos e depois três pontinhos e depois...preenchimento de tédio, enchimento do tédio, esvaziamento do tédio...enfim, conversas cotidianas.

Já havia me esquecido desta história de tirar fotos de operações, de tentar enxergar o que há dentro de cada um. Mas esses dias atrás, enquanto dava pipoca aos pombos da Praça Carlos Gomes, vejo uma senhora gorda de vestido florido correndo em direção a um senhor magrelo de chapéu de palha dizendo que havia ficado pronto. Carregava entre seus braços um aveludado álbum vermelho. O senhor corcunda sentou em um dos bancos expressando um som que parecia o ranger de uma porta. A senhora sentou-se ao lado dele, abriu as pernas deixando aparecer uma espécie de meia-calça e abriu o álbum onde de longe tentei olhar e ouvir. “Essa é da redução de estômago, mor. Com esse fecho cinco”. O senhor contraía e relaxava seus lábios, emitindo somente grunidos...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

...

"E a coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais..."
O mundo tem portas, ou melhor, é elastico, ou melhor ainda, é gasoso. Ora se comprime, ora se expande. E esse é o movimento da vida.
Importante respeitar o "às vezes". Às vezes as estrelas, às vezes o chão. Às vezes o olho coberto de pápebra que não quer acordar.
E a partir disso pensar as casas, as caras, as pessoas, o si com o contato do outro.
Eita vida danada.
O futuro nesse momento é apenas um horizonte cheio de neblina...nuvem que poderá se dissipar...
Amigos-amores:
Dedico à vocês minha inquietude por querer viver. Apesar do debater-se às vezes parecer ser o movimento que resta. Não nos iludemos. A beleza de nossa vida sempre foi composta por pinceladas sutis. Me borre com cores que chegam a bosta e de repente pinga azul. Misture branco, mas não torne a mistura homogênea.
Deixe traços de bosta, deixe traços de azul, deixe traços de branco.
Ah! Se o amarelo de sol fosse sempre tinta....não é, amigo. Ele ás vezes cega vista dormente de sonos contínuos e escuros. Ele nem sempre é belo.
E essa atmosfera que de longe, pela televisão, grita que o mundo está em crise....que mundo é esse?
Lembremos do caminhar por ruas onde o que cercava não era somente ar leve...lembremos de todo o ar pesado, que belo, preenchia a vida....
Quanta coisa chata que se há de viver...Quantas coisas que deslizam sobre nós sem que passassem pelo nosso escolher...Ah! vá se fuder.
Amigos-amores...acho que a vanguarda está um tanto demodè. Então não sejamos mais o que diz do futuro, nem do passado. mas que nesse momento em que o mais sólido é abstrato como um grito gritado à ouvidos surdos...sejamos a calma de uma dor passageira, de um desespero alegre.
Alguém será que pode me dizer nesse momento o que é o mundo?
Nããããããããão. Não me venha com churumelas. não me venha com explicações. Decididamente não quero.
Quero movimento de estar junto, seja em silêncio, seja no desconforto de não saber o que falar. Mas junte aí comigo....
Ó fantasma do desespero que insiste em me assombrar. Pra ti faço a careta mais engraçada que consigo. Por mais que pareça trágica.
E tudo que ofereço é meu calor, meu endereço.
Meus queridos, não me façam só. Sei que isso também é muito ilusório para nós. Que usemos os telefones, os Msns da vida, a telepatia, a alucinação de estarmos perto quando a garganta aperta.
Amo vocês...por mais piegas que possa parecer...e foda-se o que parece ser. O que parece é nada mais que contra-ponto ao invisível. E vem cá, tem coisa mais bela que o invisível? Cheio de espaços vázios a preencher...
Nos esbaldemos de invisível.
Ei, estamos aí... na mesma barca...nesse mundão de oceano...
E daqui falo nesse blog, que muitas vezes me socorre do falar-me a mim mesmo...é muito bom ouvir sussurros de outros....não me deixem somente entregue ao que é meu. o meu é muito pouco, é muito interior. Quero mundo(s). Quero vias. Quero expressão de vidas. Ler o que se passa por vidas próximas a minha é aconchego de grito que não se perde no vázio. Comentem idéias. Me marquem também com suas marcas. isso me faz bem...
Valeu Du...força na piruca...e vamu que vamu!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Sobre as coisas


"Por que publicar também o que não presta? Porque o que presta também não presta. Além do mais, o que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto do modo carinhoso do inacabado, daquilo que desajeitadamente tenta um voo e cai sem graça no chão"...C.L.


As vezes me concentro para que ao escrever consiga gerar algo que seja sentido como novo. Mas já tem tanta coisa escrita e registrada. Parece que de alguma forma as palavras já se combinaram em algum lugar alguma vez. Sensação de repetir o que já foi juntado. Mas será que importa o quê?

Sei lá. Escrever é meio de se jogar...de vomitar idéias, de se escancarar e tornar-se o que já não se é mais, sendo. E o que importa se vai sair um texto, algo novo, adjetivados. Quero mais é que se fôda. Quero mais é só deixar rolar. Nesse momento, que paro e encontro o instante, o registro e a imaginação. Vou mais é me esbaldar.... me encharcar de mim e se rolar, trasbordar... se não apenas divagar, viajando. Descompromissado comigo, contigo, com eles.

Para que pensar nas pessoas se existem as coisas? As pensoas demasiadamente já estão excessivamente regadas, rasgadas, enrugadas....só se fala delas. E as coisas? E as coisas? E as coisas? Me diz aí sabichão...

E é disso, e é isso e é das coisas que me interesso...dessas coisas que me aparecem como espinhas... amareladas dentro da pele, que incomodam e dão enorme prazer em jogar no mundo...gosmas sem porque, sem pra que.... pele que se rompe em substância nojenta, que causa aversão de si, mas que lhe foi e não são mais.... as coisas... como gosto das coisas...

Será que o Agora pode rolar sem lenga-lenga e com muita emoção e sensação? Será que os paradoxos estão menos assustadores e mais possíveis? Será que finalmente essa não-condição -religiosa, sexual, de classe, de tribo, de vida - pode ser vivida como grito público, como um estado de COISa... e ser deliciosamente suportada durante os instantes?

Acredito que SIM.

e que se escreva, se inscreva.... o que se tem além dos medos? Muitas coisas...belas e asquerosas.

sábado, 28 de março de 2009

Nasceram de novo!

quarta-feira, 25 de março de 2009

O conforto de desconfortar-se

meus chacoalhões de nietzsche ....
A vida é dura de suportar; mas, por favor, não vos façais de tão delicados! Não passamos, todos juntos, de umas lindas bestas de carga.
Que temos em comum com o botão de rosa, que estremece ao sentir sobre o corpo uma gota de orvalho?
É verdade: amamos a vida, porque estamos acostumados não a vida, mas a amar.
Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre, também, alguma razão na loucura.
E também a mim, que sou bondoso com a vida, parece-me que as borboletas e as bolhas de sabão e o que mais do gênero há entre os homens, são as que melhor conhecem a felicidade.
Ver voejar essas alminhas loucas, leves e graciosas induz Zaratustra a chorar e a cantar.
Eu acreditaria somente num Deus que soubesse dançar.
E, quando vi o meu Diabo, achei-o sério, metódico, profundo, solene: era o espírito de gravidade ─ a causa pela qual todas as coisas caem.
Não é com a ira que se mata, mas com o riso. Eia, pois, vamos matar os espírito de gravidade!
Aprendi a caminhar; desde então, gosto de correr. Aprendi a voar; desde então, não preciso de que me empurrem, para sair do lugar.
Agora, estou leve; agora, vôo; agora, vejo-me debaixo de mim mesmo; agora, um deus dança dentro de mim

terça-feira, 24 de março de 2009

o (des)emprego do cotidiano




Acordo...
Como será que será?
Abro os olhos e me dá vontade de matar mais um pouquinho do dia com sono - atividade prazerosa, relaxante, viajar em outras realidades. E posso.
Mas depois que se dorme uma certa quantidade de tempo, fica difícil, mesmo podendo e querendo, se entregar à mágia do babar, do não se ver, do respirar profundamente e roncar. Às vezes penso que seria muito bom se pudesse passar mais tempo dormindo, se eu pudesse controlar a quantidade de sono...
Pular de sonho em sonho....habitar diversos lugares em uma mesma noite...lugares sendo dias, manhãs, tardes. Sentir pesadelo de medo e erotismo de sexo....Tudo deitado, de lado, de frente de bruço.....sozinho em meu quarto com as portas fechadas, em meu enorme colchão de casal.....com meu travesseiro cheirando onírico (mistura própria de suor com sáliva) e com a iluminação entrando suavemente manchando as paredes manchadas de tintas.
Reluto em não acordar, penso que irei conseguir precisar de mais pelo menos meia horinha de sono.... Como queria estar cansado, com sono e ter que acordar e voltar a dormir! Mas não, não sei como será que será... não tenho nenhum compromisso....só o compromisso de acordar, levantar e fazer minhas novas velhas tarefas de um emergente dono-de-casa.
E assim começo o dia a pensar... ligo a tv a vitrola ou o computador...combino? sim pode ser...
almoço pão ou faço arroz....combino? penso depois....
e na tv....será que fumo? será que saio? será q penso...continuo pensando??? uffff....
Aiaiai...mas a vida exige olhos abertos....
Postura, jovens!
Produção de si .....
Postura jovem!

sábado, 21 de março de 2009

Pela passagem de uma grande dor -Caio F

"A primeira vez que o telefone tocou ele não se moveu. Continuou sentado sobre a velha almofada amarela, cheia de pastoras desbotadas com coroas de flores nas mãos. As vibrações coloridas da televisão sem som faziam a sala tremer e flutuar, empalidecida pelo bordô mortiço da cor de luxe de um filme antigo qualquer. Quando o telefone tocou pela segunda vez ele estava tentando lembrar se o nome daquela melodia meio arranhada e lentíssima que vinha da outra sala seria mesmo “Desespero agradável” ou “Por um desespero agradável”. De qualquer forma, pensou, desespero. E agradável.A luz de mercúrio da rua varava os orifícios das cortinas de renda misturando-se, azulada, à cor meio decomposta do filme. Pouco antes do telefone tocar pela terceira vez ele resolveu levantar-se — conferir o nome da música, disse para si mesmo, e caminhou para dentro atravessando o pequeno corredor onde, como sempre, a perna da calça roçou contra a folha rajada de uma planta. Preciso trocá-la de lugar, lembrou, como sempre. E um pouco antes ainda de estender a mão para pegar o telefone na estante, inclinou-se sobre as capas de discos espalhadas pelo chão, entre um cinzeiro cheio e um caneco de cerâmica crua quase vazio, a não ser por uns restos no fundo, que vistos assim de cima formavam uma massa verde, úmida e compacta. “Désespoir agréable”, confirmou. Ainda em pé, colocou a capa branca do disco sobre a mesa enquanto repetia mentalmente: de qualquer forma, desespero. E agradável."

sexta-feira, 20 de março de 2009

Como eu ando viajandão.....rs
A-n-S-i-O-s-i-E-d-a-D-e

quinta-feira, 19 de março de 2009

E assim se foi a noite de hoje...

O menino-lobo olha concentradamente o caqui na árvore de caqui. Cor de vermelho vivo, no pé se aventura em balançar.
Ela cai.
E as palmas cheias de calos se encontram com a pele frágil. Ao fincar seus dentes na superfície sente então a carne molhada. Delicioso caqui...
Deliciosa polpa cheia de carne...menino-lobo se lambusa de caqui...
Nos lambuzamos de lambuzear-nos....
viva a época dos caquis...com as de cogumelo, de jaca, de uva e abacaxi.

Ao som de Gals

"Meu amor, tudo em volta esta deserto...tudo certo...
Tudo como dois e dois são cinco..."

E canta mesmo....sozinho na sala baixinho pra si... e rodopia (como gosto deste verbo)...e rodopia, rodopia....Rodopia!
Vai lá, vai.... solta essa carranca, deixa bamba na face....as máscaras tem que ser diversificadas....pode bota careta, pode bota blasè...mas põe de vez em qdo um sorriso amarelo de canto de boca, uma gargalhada de fazer barulho....
Armário de rostos, .... que no sono descansa em boca aberta apática...
Vai lá vai.....
vamu aê.....
vai ter que dá, vai ter que dá....
cum fé no si, sem dó... mi mimimimimimimi(rs...pra maony)
"num se assuste pessoa se eu lhe disser que a vida é boa...
enqto esles se batem de um role
apenas quem ja dizia
eu não tenho nada
...
eu sou eu sou eu sou
..."
"Sai do cu, bosta."
Pichação em Campinas...

quarta-feira, 18 de março de 2009

-Será que estou vivo?
E ao olhar o céu havia nuvens cobrindo todo o azul. Após alguns segundo o sol surgiu cegando seu olhos. Imediantamente ele colocou as mãos sobre sua face e esfregou suas pálpebras até que gerasse uma coceira que lhe fez ficar excitado.
orriu e continuou andando pela praça localizada no centro da cidade.
"A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois? No fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.” Caio Fernando Abreu

terça-feira, 17 de março de 2009

-Esta morte eu ofereço à vida...
e então encheu sua xicara lilás de leite, ocupou-se de duas colheres bem cheias de açucar e as despejou. Mexeu e sentiu descer por sua goela deliciosa sensação gelada.
-Esta morte eu ofereço aos vivos!
Deu mais uma passo e no vermelho tapete pisou. Como se tudo aquilo fosse realmente novo.
- Esta morte eu ofereço aos vivos.
Tirou seu sobretudo e pulou no mar.

domingo, 15 de março de 2009

...


Carta ao virtual...

Olá anônima.....
pensa o que sobre celulares, a Argentina, a normalidade, as facilidades?
....senhorita que escreve atrás de seu blog que ninguém sabe o endereço...
Viagens compartilhadas, moradas divididas, momentos vividos...
E aí? Sempre bom saber que você passa por aqui de vez em quando e assim nos encontramos... mesmo sem estar juntos sendo encontro de idéias e embates.....
seja sempre bem-vinda por essas bandas...
agora sei dos desabafos e assim ....
"Mas se você for esperar ficar pronta, nunca o ato de entrega se fará" Clarice L.
E os celulares......podem sim ser desnecessários.....rs
O que se faz com isso? O que se faz com as idéias? O que se faz consigo? O que se faz?
Sei lá...vou fazendo.... vou obrando.....e andando.....rs

quinta-feira, 12 de março de 2009

Cada passo um espaço, sendo poço, sendo posso, sendo posso no poço, posso no passo.

Parado percebo q movimenta. sangue nas veias, coração que pulsa.... cabelo e unha no ar, rasgando antes o que não era eu.....percorrer sem querer é deriva de tempo, é movimento de mundo. Mesmo mudo, mudo.

Vida arte...contemplar qdo os olhos vêem telas, estáticas, coloridas em contraste. assistir quando se é filme,de frente a movimento, a cenas q articulam cenarios, calado, aberto e fechado. Atuar quando se faz palco, teatro, e subjetividade encarnada em esquete, momento, corpo público que interage arte, que interage si.

Chuva é o que molha o invisível. Ar não existe - invençao maluca- Concreto só com tato.

Entre o que fui agora e o que você está sendo ao ler em um agora futuro há a imensidão do deus imaginação... e o simples encontro entre um eu e um s'eu...um outro...

como se em uma festa pusse encontrar todos que já encontrei. Aquelas crianças que andavam comigo de bicicleta, qdo meu corpo não tinha pelos. Os adolescentes que se contentavam com chapinha e tocavam legião em praça. Os universitarios donos de ruas e embebidos e enfumaçados de uma loucura doméstica. Todos em uma mesma festa.... e eu? Seria risos, cheiros, sensações.... mas não teria corpo... seria Algo...com letra maiuscula e substantivo Próprio.... vida que se faz aqui...atualização de muitos ....



terça-feira, 10 de março de 2009

Fim do Aprimoramento....... Agora é ripa na chulipa!!!!!!!!!!!

"No horizonte do infinito – Deixamos a terra firme e embarcamos! Queimamos a ponte – mas ainda, cortamos todo o laço com a terra que ficou para trás! Agora tenha cautela, pequeno barco! Junto a você está o oceano, é verdade que ele nem sempre ruge, e às vezes se estende como seda e ouro e devaneio de bondade. Mas virão momentos que você perceberá que ele é infinito e que não há coisa mais terrível que a infinitude. Oh, pobre pássaro que se sentiu livre e agora se bate nas paredes dessa gaiola! Ai de você, se for acometido de saudade da terra, como se lá tivesse havido mais liberdade – e não existe mais ‘terra’” (NIETZSCHE,1981)

"existem múltiplos espaços públicos que podem ser criados e redefinidos constantemente, sem precisar de suporte institucional, sempre que os indivíduos se liguem através dos discursos e das ações: agir é começar, experimentar, criar algo novo, o espaço público como espaço entre os homens pode surgir em qualquer lugar, não existindo um locus privilegiado"(ORTEGA,2000)

"Acreditar no mundo é o que mais nos falta; nós perdemos completamente o mundo, nos desapossaram dele. Acreditar no mundo significa principalmente suscitar acontecimentos, mesmo pequenos, que escapem ao controle, ou engendrar novos espaços-tempos, mesmo de superfície ou volume reduzidos" (DELEUZE,1997)

"A loucura aos loucos e a normalidade aos normóticos, aos normais, aos neuróticos? Não. Somos um emaranhado de linhas que não se separa. De alguma forma estamos todos ligados, seja pelos encontros ou pelo distanciamento que achamos necessário. Como humanos, ou como vida, somos as identidades, as crises, as ambigüidades. Mas não somos peixes que podem viver emergidos em um mundo próprio, abaixo do nível do mar. E não somos pássaros que se distanciam da terra quando querem alçar vôos para respirar outros ares. Somos peixes e pássaros e loucos e normais... somos humanos em movimento, em devir. (...)“E quem disse que ia ser fácil?” Fazer da crise um passo e do desespero uma oportunidade de gritar. É quando o mundo grita que você é louco e em resposta você grita ao mundo: Louco é você, que chegou a tal complexidade que não se pode registrar em uma vida ou em um livro o que lhe fez assim, se você foi possível o que não será? Pensar cada pessoa como um mundo e descobrir que entrar em contato com outros mundos ao mesmo tempo é simples e trabalhoso. Simples por se tratar de uma disponibilidade ao encontro e trabalhoso por envolver fatores como o tempo – uma história que se atualiza a todo o momento - e o espaço – geografia complexa cheia de relevos formados por corpos em movimento." CURCELI 2009....rs

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Pra algumas coisas a gente arruma cola...pra outras o jeito é jogar fora...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Despir-me. Zerar o placar para que outro jogo comece. Outro campo, outras roupas, outro solo, outros jogadores. O mesmo corpo com marcas, com calos, com rugasde sorrisos e rastros de lágrimas. Despir-me.
Vento que sopra o rosto suado. O menino respira o ar que vem lá de longe. O que chega vem carregadode partículas que perderam a origem, o surgir. Já foram chão de casa, terra de pomar, sujeirade unha e vento. Grão que pregam e despregam-se no ar, na pele, na água.
No primeiro chutar da bola chacoalham-se os pêlos que tremem. Alguns caem. Poros se abrem pretos . Pontos saem de dentro da carne.
Despir-me de mim. Novos pêlos, novas peles, novos cheiros, novos seres.....
Sejam bemvindos...vindo, vindo...
Que me morra, que se mato....
Mas principalmente, que seja bem vindo vivo.....pois vivo.

sábado, 24 de janeiro de 2009

De saco mto cheio de tudo isso......as vezes parece que caí neste mundo e ainda não me recuperei do tombo....
ainda bem que é as vezes....mas ainda mal que o as vezes é agora....fudeu...
é a vida

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

SãoPAulo... cidade furada de caminhos, becos...vias.
Cores sicronizadamente dessincronizadas. de quantas mãos, olhos e passos é feita esta cidade?
Como é possível que assim como no céu meus olhos se perdem infinitamente sem local de repouso, neste espaço urbano a frente não há alcance sem gente.
é gente pendurada pelos ares...jardins suspensos de concreto e carne que anda.
Não há mais distancias fícas...inevitavelmente nos trombaremos por esbarrões, olhares, paixõses e também gritos escalafobéticos de dentro de carros, de bares, de ruas...
Caibemos!

sábado, 17 de janeiro de 2009

for sada...
a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida"

seguro morreu de velho e sozinho...
leminski

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Não sei quando começou, mas de um repente estou aqui.
Criança que sou. Brincando de viver, de experimentar a inconstância em estar de olhos abertos e acessível a mundos. Em certos momentos tenho uma imensa vontade de continuar em estado sonífero, deitado em cama, subtraído de outros encontros além de mim comigo em minha imaginação.
É neste lugar que me sinto confortável, quando consigo brincar em minha imaginação com possibilidades nem sempre viáveis de acontecer Quando me sinto sem culpa de criar, de viver, de arriscar. Quando desconsidero a opção de me arrepender em fazer/pensar algo e me deixo levar por meus sonhos. Por mais que isso aconteça em um lugar que só em mim habito...minha imaginação. Necessito da solidão e do caminhar sem barreiras físicas. Necessito do delírio que desaprisiona o senso comum. Necessito poder decidir em mim o que se faz necessário e o que me faz ...
O que quero ser divido quando assim me faço... de resto, tenho em mim todas as possibilidades do mundo....tenho em mim todos encontros possíveis...tenho em mim a imaginação e o sono.....