terça-feira, 7 de abril de 2009

"A relevância do eu-interior" e|ou "Carcaça de veludo"

Sim, agora me conhecerei por dentro de verdade. Tomei esta decisão por reconhecer a importância de poder ver as formas e cores que em mim habitam. Afinal de contas a maioria das pessoas já tem acesso a seu conteúdo e me disseram que alguns profissionais, que estão começando neste ramo agora cobram preços bem reduzidos e parcelam em muitas vezes o serviço completo.

Lembro do meu espanto quando pela primeira vez ouvi falar destas técnicas. Foi em uma das exposições de um tal museu de arte contemporânea pós-pós-moderna de alguma cidade conhecida por seu espírito de vanguarda. Caderno de Cultura do Jornal do estado, era isso, há mais ou menos uns dezesseis anos atrás. A reportagem localizava-se na metade da folha inferior daquela página, algumas fotos mostravam o trabalho artístico. Achei interessante, fotos de vários ângulos, focos e enquadramentos. Em entrevista, o artista explicava que gostaria de lançar um novo olhar ao que era de mais profundo nos seres humanos. O trabalho consistia em expor ao público fotos de pessoas no meio de processos cirúrgicos. O fotógrafo tentava se deter ao que aparecia depois dos cortes, ao que vinha aos olhos depois de ser rasgado. Contou que as pessoas que permitiram ser fotografadas ficaram lisonjeadas com o resultado daquela experiência, pois tinham a sensação ao se depararem com o que lhe preenchia por dentro, de que naquele momento todo um recheio tomava conta de um vazio que carregavam durante toda a vida.

O assunto apareceu em algumas rodas de conversa em bares e na hora do café-cigarro. Alguns achavam extremamente estranho, e riam desta “maluquice”. Outros diziam que podia ter à ver mesmo, pois estudos anteriores revelavam muito de alguém através da leitura da íris ou das mãos ou dos fios de cabelo e acreditavam que talvez por dentro que encontraríamos as explicações de cada existir e o estancamento de todo sofrer. Depois de algumas semanas o assunto não mais foi pauta, no lugar dele vieram o fim da novela das oito, o casamento de Suzy Malaquias e depois três pontinhos e depois três pontinhos e depois...preenchimento de tédio, enchimento do tédio, esvaziamento do tédio...enfim, conversas cotidianas.

Já havia me esquecido desta história de tirar fotos de operações, de tentar enxergar o que há dentro de cada um. Mas esses dias atrás, enquanto dava pipoca aos pombos da Praça Carlos Gomes, vejo uma senhora gorda de vestido florido correndo em direção a um senhor magrelo de chapéu de palha dizendo que havia ficado pronto. Carregava entre seus braços um aveludado álbum vermelho. O senhor corcunda sentou em um dos bancos expressando um som que parecia o ranger de uma porta. A senhora sentou-se ao lado dele, abriu as pernas deixando aparecer uma espécie de meia-calça e abriu o álbum onde de longe tentei olhar e ouvir. “Essa é da redução de estômago, mor. Com esse fecho cinco”. O senhor contraía e relaxava seus lábios, emitindo somente grunidos...