Vejo uma árvore carregada de amoras em uma esquina da Consolação. Algumas pisadas no chão deixam borrões na calçada. Doces? Nos galhos, algumas ainda meio verdes, meio vinho, meio sede, me olham enquanto sentado no ônibus...
Já tentou contar as janelas que se viram para rua? Quem está por trás delas a não olhar? Quem é o moço dentro da cozinha apertada que espera a última gota de café amargo pingar do coador ao copo que já foi com milho? Pia de mármore rachado, poças.
Tiro da mochila deitada no chão fotos que acabaram de se revelar. E é tudo tão novo, tão louco. Como é que vim parar aqui?
Já na Paulista, chego até o décimo quinto andar. Comedoria? Queria mesmo era acender um cigarro enquanto observo mar de prédios e neblina tóxica. Por que não se pode fumar aqui em cima? "Por causa da lei, por causa da lei" - coloca a cabeça para fora da nuvem o senhor engravatado de barbas brancas.
Aos poucos escurece. O tal de Oury fala, mas dos fones que estão em meus ouvidos ouço apenas a voz macia da senhorita Tradutora. Ela falou que ele falou que o Freud falou isso: "Aí onde estou, devo tornar-me".
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