terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Registro mundo(s)

De repente vem uma força que clareia e confortabiliza o todo confuso, transformando-o e mim em paz. Um istante em que os embaraçados fios de diversas histórias, como se fossem nuvens, ganham desenhos já acabados - por mais que depois voltem a se formar em algo quê.
É a hora que o cachorro sarnento se cansa de coçar e encosta-se no canto da parede. Com a cara entre as patas parece suspirar, se esquecendo do incomodo de si.
Pelo chão, às vezes fica tudo espalhado: roupas recém tiradas de um dia suado de trabalho, textos antigos que li pela metade, trocos... e espaços vazios por onde posso pisar e me locomover.
Às vezes fica tudo arrumado: Dobradas, compactuo e empilho todo conteúdo que pairava como pensamento em mim. Encaixo diversas cores e origens, sólidas como massas de modelar - farinha com água e corante a base de suco e/ou compradas na loja de brinquedo da esquina. Modelo os movimentos deste corpo, as maneiras como irá deslocar ar e emitir som - ação e discurso.
Faço natação. Frequento terapia. Converso com loucos. Arrisco um novo romance. Acordo numa manhã chuvosa e tomo café-da-manhã ao som de rádio FM.
A prateleira encostada da nova sala flerta distraidamente com a parede que está a sua frente. Em si tem livros e em seu último andar mora (minha) samambaia com seus cabelos bagunçados. Há também um telefone sem fio e um toca-musica. Vias de se perder o olhar e ganhar caminhos invisíveis. Assim, sem TV, aprendo a construir relações de mundos... que me surpreendem.
Enquanto dormia, nesta madrugada, quatro estouros chacoalharmam meu corpo jogado na cama. As explosões vindas da rua fizeram clarão lá de fora. Pedi ajuda e ligamos para os bombeiros. Eu tremia e meu coração disparava. Os bombeiros disseram que isto era com "o" Eletro Paulo. Seja quem for esse moço, fiquei tranquilizado, e voltei a dormir. Aqui não há incêndios no momento. Só uma chuva que teima em inundar a Marginal Tietê. Estou longe.... e é dia.

Um comentário:

Thaís disse...

que delícia as ressonancias dessa sua fase transição-recolocação.
sua casa me fez sentir em casa, e suas palavras me transportaram pruma terra longe, distante anos-luz dos nossos novos modos de transitar.