sábado, 19 de dezembro de 2009

18, 12-12-09

Sexta 18

E em frente ao cemitério, enquanto o asfalto fica ocupado por carros parados, olho. O vermelho aceso do semáforo sinaliza próspero sincronismo dos pés no bréque. Bem no meio, envolvidos eles estão.
Ela, com seus cabelos brancos, dorme de boca aberta. Ele, ao lado, espera o verde sinal da continuidade do prosseguir.
E no meio desta tarde quente de sexta, onde tenho a seguir semana de ponteiros desgovernados de ordens alheias, olho.
A espera do ônibus laranja escrito "Card Alm" paraliso o corpo suado e quente. Sensação não se descreve o tempo todo. Sensação sem nome de sentimento é Aquilo, Isso, ...
De repente o Acaso pode tomar conta de corpo e criar (in)forma. E não há alarde de pensamento/escrita brusca.
Emsimesmado é quando? Se me invade o outro quando estou só. Será que emsimesmado se confunde com emsioutrado sempre? Esses outros que ultrapassa corpo delimitado por pele e pêlo. O outro é calor de sol, é boca aberta que desvenda nuances de língua, de céu(,) de boca.
A velha dormia no carro (segura) em seus sonhos de sonos paulistanos.

Sábado 12

Clarice me encontrou nesse sossegado sábado de dezembro. Cada vez me convenço que o pensamento pode ser literário e vice-versa. Vida obra de arte?
"Porque hoje é sábado"(V.M)... dia de curtir a casa, de curtir vida-eu e tudo que mais couber conectar. Dia de larica existencial com mesa farta!

"Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-la na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço."
"A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas, enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro chegasse."
"(...)Nas bilhas estava o leite, como se tivesse atravessado com as cabras o deserto dos penhascos. Vinho, quase negro de tão pisado, estremecia em vasilhas de barro. Tudo diante de nós. Tudo limpo do retorcido desejo humano. 'Tudo como é, não como quiséramos. Só existindo, e todo. Assim como existe um campo. Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e não nós, os ávidos. Assim como um sábado. Assim como apenas existe. Existe" ( A repartição dos pães - C.L.)

Um comentário:

Asinim disse...

E um sábado de sol programado pra se fazer o que quiser com quem quiser às vezes é tão difícil.