quarta-feira, 22 de julho de 2009

DENTE

As mudanças começam a ganhar corpo. Com isso, percebemos que a vida tem velocidade. Aventurar-se por cenários novos. Observar o tempo que passou.

Assim foi naquele dia, ao esperar o chamado que vinha da caixa de som abafada. A sala era clara, cheirava a éter. Pessoas ao meu redor folheavam revistas com suas mochilas cheias de livros e bolsas com pacotes de lenços umidecidos. Sentadas também esperavam seus nomes serem anunciados.
O relógio redondo a cima da janela era mirado por cabeças. Observavam em intervalos curtos de tempo. Sincronizadamente dessincronizadas.
Antes de obturações, finas agulhas perfuram gengivas macias afim de evitar a dor - anestesiamento.
No canto da sala uma Comigo-ninguém-pode esverdeja. Folha que intoxica quem a come. Move-se imperceptivelmente na direção da janela de viro, abaixo do relógio redondo.
"Pérola de Aquilo, sala 3. Pérola de Aquilo, sala 3". Ecoa o som até... A moça levanta-se e caminha. Em seguida ouço ruído de furadeira de dente.
De cinco em cinco o ponteiro anda. Sempre corro para não me atrasar e como resultado ganho adiantamento. Aí preciso me distrair. Mas distrair de quê?

Ao sair do dentista sento na sargeta e acendo o último cigarro do maço.
As mudanças começam a ganhar corpo. Com isso, percebemos que a vida tem velocidade. Aventurar-se por cenários novos. Observar o tempo que passou.

O ônibus 332, movido a biodiesel, aponta depois da curva da rua.

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