domingo, 26 de julho de 2009

Lua nova

Encho meu copo meio cheio de água com sobras de outros copos já bebidos.
Começo a pensar que é preciso lembrar que no fundo você é muito sozinho. E você que vai ter que ir atrás, se movimentar, mexer esse esqueleto coberto de carne, músculo, banha e eticétera ( expandindo ao invisível e aos ocos interiores).O pensamento é interrompido pela voz dela que pergunta:
-Você acha que eu ponho um tênis ou não precisa?
-Eu acho que talvez você vá pisar em poças.
Saímos juntos pelas ruas encharcadas de chuva - Sozinhos.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

DENTE

As mudanças começam a ganhar corpo. Com isso, percebemos que a vida tem velocidade. Aventurar-se por cenários novos. Observar o tempo que passou.

Assim foi naquele dia, ao esperar o chamado que vinha da caixa de som abafada. A sala era clara, cheirava a éter. Pessoas ao meu redor folheavam revistas com suas mochilas cheias de livros e bolsas com pacotes de lenços umidecidos. Sentadas também esperavam seus nomes serem anunciados.
O relógio redondo a cima da janela era mirado por cabeças. Observavam em intervalos curtos de tempo. Sincronizadamente dessincronizadas.
Antes de obturações, finas agulhas perfuram gengivas macias afim de evitar a dor - anestesiamento.
No canto da sala uma Comigo-ninguém-pode esverdeja. Folha que intoxica quem a come. Move-se imperceptivelmente na direção da janela de viro, abaixo do relógio redondo.
"Pérola de Aquilo, sala 3. Pérola de Aquilo, sala 3". Ecoa o som até... A moça levanta-se e caminha. Em seguida ouço ruído de furadeira de dente.
De cinco em cinco o ponteiro anda. Sempre corro para não me atrasar e como resultado ganho adiantamento. Aí preciso me distrair. Mas distrair de quê?

Ao sair do dentista sento na sargeta e acendo o último cigarro do maço.
As mudanças começam a ganhar corpo. Com isso, percebemos que a vida tem velocidade. Aventurar-se por cenários novos. Observar o tempo que passou.

O ônibus 332, movido a biodiesel, aponta depois da curva da rua.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Esvaziando o saco cheio

Décima oitava vez tentando postar alguma coisa. E o movimento é sempre de escrever e apagar, registrar e desaparecer, imprimir e jogar fora. Vai ver porque é assim que as coisas se evidenciam no momento de agora. Parece que tem muita partícula solta no ar... e o que fazer com tudo isso?
Organizar em letras, pensamentos e linearidades parece tarefa da mais enfadonha. Olhos e dedos se cansam um do outro. Aí me vejo assim: uma meta escrita, uma meta vida, uma meta meta meta meta coisa.
"Para frente e avante". Tento me convencer que sei o caminho por onde piso. Mas os registros não colam e pareço encenar a lamúria tendo raiva do ato. Cansei de correr em círculos, de ir e vir procurando no cenário conhecido o que pode fazer desvio. Como se eu não houvesse percebido aquela fruta doce no galho escondido, aquela seta ou aquela hora que anunciava o novo. Tudo está desgastado e enjôo-ativo.
E de uma vez por todas vou parar com esses vícios que insistem em desejar o desejo que nem sei se é meu, que nem sei se É eu...
Sim, eu assumo, mora em mim a dezorganização e o gosto pelo movimento causado por ela: movimento produtivo. A dezorganização como traço que não busca nada além de sua existência, que anda e cresce como as árvores do cerrado: TORTA. Rastros de contornos abstratos, porém belos, vivos e impactantes.
Curvas e laços. Estou extremamente cansado de gente careta e chata (me incluo). Cansei de chamadas orais, entrevistas, provas. Querem me conhecer? DE_SEN_CA_NA. Vai por outras vias, use outros verbos... Se estiver afim de me encontrar, de prosear, de produzir, de jogar...Beleza! Mas não me venha com decifragem, livros de procedimentos e manuais de primeiros socorros... A vida é mais simples que todas essas baboseiras, é menos cansativa do que a busca pela adaptação perfeita. E quanto ao sofrimento? Não se iludam, meus caros, ele dá passagem à vida, ao continuum, a outros ares.
Pronto. Afeto que sai é via que se cria. Agora, caminho...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

-o que vem desse sopro de agora?
-Não sei, mas sinto uma leve brisa.
-De onde vem?
-Acho que vem lá de longe, da onde desconheço e nunca fui. Às vezes me bagunça o cabelo por trás, Às vezes me embala o sono com seu assobio frio.
- Mas digo desse sopro de agora.
- Agora? Não vem de lugar nenhum. Ele apenas vai. Sinto como se saísse de meus poros.