segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Meu bigode

Pêlos que sobraram a cima dos lábios. Um bigode.
Cada vez mais os encontros com São paulo tornam-se casuais.
Afinal, loucura só se é quando não há nome.
Juntos e sobrepostos o coletivo de pêlos chama-se "bigode".
Permiti que ficassem e resolvi chamá-los de meu bigode. Meu bigode novo.

Desfilei pela rua e me sentia vestido com o charme de uma época que desconhecia. Me senti tomado por um eu que distante, de outras gerações, me sorriu de um jeito diferente. Era meu apetrecho cafageste, minha terceira sobrancelha. E sorria pras senhoras. Tateava-o com a ponta da língua. Molejei. Malandrei. Encarnei-me de samba, de flor, de ginga.

Era um conjunto de pêlos que sobraram daquela barba descuidada. Era meu bigode que levei pra passear. Era rosto novo com cheiro de antigo. O ridiculo sensual em uma pequena parte de pele.

sábado, 30 de outubro de 2010

Salvador

Salvador, quanto Axé. Encontro intenso, tão forte e frequente como quando morávamos juntos. Gargalhar. Sair pelas ruas. Conversar deitados numa rede com sombra de samambaiar. Um beijo. Doses. Onda contínua de mar, aberta por janelas de ônibus urbano. Gosto de frito com creme de pimenta ardida. Patas de carangueijos, rinocerontes e girafas com pescoços de coqueiros. Os sóis...o pôr dos sóis. Se pondo por terra, ar e mar e na Puta-que-pariu. Nós por de sóis com as pernas pra cima. E a partida...sem se partir. Fica possível ver.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Cidade Natal

E por tantas andanças volto a cá. O corpo cheio de marcas que nem vejo, apenas sei que existem. A cidade ganha novo andante, no cotidiano que até havia esquecido existir. Acorda, almoça, trabalha e volta pra casa na pequena cidade pequena. Acho que também é possível, desde que haja tranquilidade no olhar, sem cobrar o estar mergulhado nas fissuras de velhas cicatrizes. Quando achei que já haviam ido, apareceu uma cidade inteira... e não foram...
De supetão, no meio do nada Eles surgem. Menina Melina diz:
-Os tempos áureos virão, antes que eu desfaleça com a cólera do meu eu hoje.
Fran quebra o suspiro e exclama:
-O gato rompeu a realidade do tempo e agora dialoga diretamente com seu futuro!
E na ponta da mesa, menina Cheiro feito gato estrangeiro arrastando sensibilidade em contato fecha a conta e sai por entre as pernas miando:
-Esse mundo é apenas uma dimensão na imensidão do universo que existe em nós.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

outros semelhantes

O arrepio na espinha e os pensamentos perturbadores deram lugar a uma confiança em que iria vir acomodados momentos alegres. É que não mais estava sozinho com a espinha e os pensamentos. Passou a conversar e sintonizar-se com vozes alheias. Deixou um pouco além aquilo que ouvia de si e sentiu outras passagens. Quando menos esperava deles, eles de presente no repente surgiram. Eram todos estranhos. Fato que lhe deixou seguro em ser daquele jeito esquisito. Cada corpo sem simetria ocupava sua visão de que realmente o mundo era um tanto torto. E que o simétrico caia como que sacolas de supermercado. Nesta hora viu-se amigos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O riso e a faca - Tom Zé

Quero ser o riso e o dente
Quero ser o dente e a faca
Quero ser a faca e o corte
Em um só beijo vermelho

Fiz meu berço na viração
Eu só descanso na tempestade
Só adormeço no furacão

Eu sou a raiva e a vacina
Procura de pecado e conselho
Espaço entre a dor e o consolo
A briga entre a luz e o espelho

www.youtube.com/watch?v=vSFTtuVsW_E

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

No camelô

...
Uma fada, um gnomo, uma bruxa e um cachorro deitado na calçada responderam ao louco:
- Só vai dar certo se acreditar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um sopro de morte

Uma poesia? Calmaria? Me chamaram de niilista, naquele texto que me confundo com o mundo e o mundo comigo. Acharam que era nada de vontade, mas na mais pura verdade, se é que isto é possível, a vontade era de nada, ou da proximidade do vázio de tudo. Cansaço. Estava cansado.
De vez em quando se cansa. Se cansa de tal modo que descanso não é resposta. Não é parar, respirar, cochilar e depois continuar correria. De vez em quando o cansaço é morte, esgotamento de repetição insuportável - Desvio. A gente cansa pra perceber que morreu, que a morte é necessária.
...

Ouvi dizer que ele se enforcou. Será um boato? Não queria este pensamento no sábado a noite. Mas me disseram que ele morreu. Invadiram a mim com esta informação. É a possibilidade da desconhecida morte do conhecido. Será mesmo que ele de lá morreu enforcado? Não podiamos falar de morte num reencontro festivo de sábado a noite. Mesmo sem ver, percebia nos olhares parados que ela estava presente na sala. Por mais que fosse sentida, não era hora de acreditar na morte.
E nietzsche sussurrou:
- E, quando vi o meu diabo, achei-o sério, metódico, profundo, solene. Era o espírito da gravidade - a causa pela qual todas as coisas caem.
Do apartamento ao lado, ouço o velho balbuciar:
-Esta morte eu ofereço à vida...
E então encheu sua xícara lilás de leite, ocupou-se de duas colheres bem cheias de açucar e as despejou. Mexeu e deixou sentir por sua goela deliciosa sensação gelada...
Na TV ligada, o moço famoso concedeu sua última entrevista antes da hora:
-Esta morte eu ofereço aos vivos!
Deu mais um passo e no vermelho tapete pisou. Como se tudo aquilo fosse realmente novo.
E longe ...aquele outro disse:
-Esta morte eu ofereço aos vivos.
Tirou seu sobretudo e pulou no mar


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

artistico

os olhos de chico
o sorriso de elis
a cintura de ney

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Não sei o que posso fazer com este meu jeito fragmentado de ser... então faço, mesmo sem saber

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Samambaias e avencas

Para as samambaias e avencas é mês de poda. Peguem suas tesouras afiadas e cortem todos os ramos que viveram verdes até então. Não se faz necessário seguirem soltos pelo ar somente por ainda estarem com aparência forte. Dê lugar pro que está por vir. Acreditar que o novo ressurgirá, mesmo sem ter certezas. Há uma espera gostosa de se curtir ao ver toda samambaia querida esfacelada em vázio de folhas, com seu vaso a mostra como nunca. Há magia na crença de que do relativamente feio seguirá movimento de vida. Não se iluda: continua a planta, apesar de sua diminuição de volume e tamanho, necessitando de água e terra boa. Cultivemo-nos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

De mim, não sei

Sozinho, olhou em volta e não viu ninguém. Sentiu o começar de um frio que duraria dias. Do fundo de si fez sair grito quente. Sem se poder decifrar, apenas grito quente.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Cidade Inferno

A cidade coberta de névoa quente.
Os carros e caminhões enfileirados na margem de rio sujo e fétido chama o diabo do ódio.
Desgosto pinga em face com o suor grudento, encorpado.
É o inferno de viver no desenfreado movimento só, com apáticos rostos fantasiados de cor.
Há gordura nos ares e no hálito. Toda a pizza, os hamburgueres e queijos fritos me enojam e causam ânsia.
Aqui há rancores. Aqui há o que de mais podre existe no mundo. Aqui há também.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

sólido mundo

O mundo sufoca, abafa, entope
O mundo é preso, presa sem dedo
O mundo rodeia e tonteia, engasgo.

Às vezes

No mundo me vejo lacrado à vacuo
Eu-mundo compacto
Que eu corra e me largue do mundo
Que corra o mundo parado e se mova
Concreto contorno rachado

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sem guarda-chuva

Acordei e esqueci de olhar se caia água. Ao abrir a porta que me joga pra fora do lar sinto ventania úmida. Umideço-me. A rua molhada é vista de dentro do ônibus, aquecido. Como irei me guardar da chuva? Nem ligo. É que tem alguns dias, às vezes, que acordo bem. Penso nas novidades dos encontros. Fico sem sono e sem medo do frio.

sábado, 26 de junho de 2010

Assim...se faz isso

Teté Fan Y - querida vizinha, boa novidade

E se tirasse toda minha roupa e num rompante pela rua gritasse canções que se canta junto? Seria eu louco? Que mal há n’Isso?
Quem quer sair por aí? Quem quer descalço pisar o chão? Asfalto? Barro molhado? Areia porosamente árida? Mergulhar e suspensos solas soltas...
Quem começa? Medo… É que de repente assume em mim uma vontade de ser assim. Assim no repente do de repente.
Agora eu?Eu?Eu quem ?
E do de repente eu recomeço.
Agora,do meu suposto não começo.(Re)começo do avesso.
Eu não quero mais esse negócio...
Esqueci o que era pra ser escrito, como se houvesse roteiro
Mas quando é que aqui vida se faz previsível?
Quando é que se pode imaginar que o atual seria...
ASSIM...
É que de repente se faz sentir ISSO...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cinza mais cinza...

De flor de cacto paulista para flor de cacto "baiana".

É época de cactos floridos! A cidade seca arde por dentro de mim. Muita poluição carbonática. De manhã, o sol alaranjado atrás do cinza pesado me faz perguntar: "É a lua?" As vozes paulistanas se expressam roucas...nos pontos de ônibus, nos corredores do metrô...as tosses são secas. Fria, a cidade me deixa mais compacto, mais encolhido, abraçado em mim. O sono cola cama, cola cobertor, cola corpo.

Peito aberto e narinas fortes para sustentar em si todo tipo de ar rarefeito.

domingo, 13 de junho de 2010

O preço da Heiniken

Para Marina Morena e Kadulino

Domingo a noite. É copa do mundo de futebol. Desenrolares de pensamento é tobogã de idéia corrente.
- Um clima toma conta do não sei o quê. Espaço? Tempo? Sei lá do que, nem o que é isso. E o que importa? Não irei trabalhar na sexta, mas terei que pagar as horas.
-Pouco me importa esse clima de copa. Rainha de Copas?
-Ontem foi dia dos namorados. Todo ano é esse ar frio de dar uma vontade de abraçar? Eliminar o entre que fica entre os nós?
-Produzir suor.
- Jazz. Ouça jazz a meia luz. E peça heineken!
-Mas que é bom ficar bebendo vendo jogo, é. E se juntar na sala. Lembra daquele churrasco lá em casa? Tinha um lençol pra não dar reflexo na tv que a gente colocou no quintal.
-Era epoca de dia dos namorados?
- Não, era época de greve.
-Nossa, era mesmo!!! O bar abria pros jogos. Bebiamos cerveja gelada no bar do Seu Luís. Mas não era Heiniken.
-Sem trabalhar. Ai ai ai.
-É louco esse negócio de horas, né? Compram minha hora a preço dado. Vendo minhas horas a preço dado. No dia da copa darão minhas horas. Darão não. Farão que eu as pague depois. Quando eu quiser... ou quando precisarem.
-Era greve em Assis? Agora entendo. Sempre há um motivo para sequestrarmos nossas próprias horas.
-No dia da copa não sei se acordarei a tempo para ver o jogo do Brasil.
-Vai ter cerveja gelada. E a gente pode ficar junto um pouco, rir e se encontrar de pijama.
-Heiniken?
-O que o dinheiro der pra comprar. Até uma migalha de tempo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O frio e o amigo

O frio paulistano convida para um jazz intimista em lugar quente e abafado. Amigo, como vai saber quando a hora é de acompanhar apenas com sorrisos silenciosos? Quando foi que tornou-se amigo, amigo? Foi quando depois da despedida deixou sorriso. Foi quando ao meu lado viajamos juntos. É que solidão apavora...e fica mais tranquilo quando dela há confortáveis imagens de mim contigo...rindo.
A noite venta lá fora, sem som. O interfone espera calado. A casa quente acolhe quem acaba de acordar de cochilo de fim de tarde que escureceu. Quando você chegar me dê um abraço forte e traga aquele cheiro de perfume que é só seu. Sentaremos à mesa, e ao fumar um cigarro lhe contarei que ainda não tomei o banho, que estou com preguiça, que ando confuso, que o mundo é mesmo muito maluco. Como é bom receber em minha casa presença de pantufa.
Vou colocar a água pra ferver. Tem chá de camomila, cidreira, maçã e hortelã. Pode escolher, e se quiser fazer misturas, fique à vontade. Deu preguiça de comprar o vinho hoje. Daqui a pouquinho tomo o banho. Calma aí. Deixa passar devagarzinho, sem fazer nada, só pra sentir o estar junto...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ta na hora de mochilar. É que essa terra firmou em mim um tanto de sola dura de pé e agora preciso passear. Ir pra lá onde nunca fui, aberto pro sei lá. Quando já tem estrato de cozido ao dente se faz necessário colocar os temperos e escolher a prataria. Vai lá, vai. Pra ir é só ir. Estrada que leva corpo à entornos antes não sentidos. Deixa rolar a vida sem tantos porquês.
-Ce tá vivo pra que?
Pergunta errada. Sei que tô e é disso que me basta o continuar. É que essas dores não ficam. Essas alegrias também não ficam. Só essa vida mutante e esquisita que se estende em mim. Esse tanto de gente que fui aí quer encontrar aqueles irritantes e/ou dóceis que serei. Vai cuquinha...curte o relaxo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

De manhã cedim

Fermentando as idéias.....se não queimá ou embatumá sai bolo de fubá
Gela de eira nem beira, me vê um góle de chá quente
É que de tanto solavanco, paladar qué aconchego
Cansado de em pé aguentá, vontade de sono
Vê cama quente usada
Vê cheiro de café que embala
Num vê que com bocejo não há de ter pressa
então encosta o cabelo na janela fechada
Viaja

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Álvaro de Campos


Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

-E quando cansa?
Arruma a cama, bate no lençol com o travesseiro para saculejar a poeira e pensa: "Tomara que hoje seja uma noite sem sonhos. Desejo sono profundo e vázio de mim. Só quero sono carregado de sono". Cubra o corpo com um edredon fofo e apague a luz.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

"Invento para me conhecer"
Manoel de Barros

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"A primavera é quano ninguém mais espera..."
wisnik

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Anjos que não morreram

Vidrados no céu,
estes viajantes de momentos,
iam além de telhados.

Desafiavam o dito
questionavam a gravidade
e seu mito.

Anjos qe não morreram
e que cegos de paixão tentavam
alertar os cegos de razão
sobre sua falta de lucidez.

Ao tentatr explicar-lhes
os efeitos da falta de sentimentos
eram ridicularizados.

Mortos, ao contrário do que se pensa,
já não tinham tanta energia
quanto em vida.

Pois anjos
nada mais são
que pessoas vivas e iluminadas.
Emitem luz própria e calor.

Assim como as estrelas
parece que voam.
Assim como as estrelas
também morrem um dia.

Marcelo Mamute Rodini

sábado, 17 de abril de 2010

Ela na paulista

Quem é que está a me esperar na sala de cinema?
Só o cinema. Cinema só.
Não está a nada esperar.
Se sozinho me entupo de informações
esvazio de sentido o alheio, o ao lado.
Ao bando exprimem diversas tonalidades de voz
Grunhidos de gralhas velhas - Irriquieta
Rouquidão de senhor esnobe – o Paulo são
Nas calçadas seguras as bolsas abraçadas com grossas roupas

E tem entrada em vão
E tem gente no ar em avião
E tem corpos dormidos no chão
Pensamento escapa por funil de balão

Sem perceber fumaça, barulho, nada mais
Cotidiano misturado com corpo
Um tanto paulistano?
Sim, pois muito sem ser
Conservadora, cidade conservadora do absurdo.
Dona Cidade Louca Caduca
De xale neon.

domingo, 4 de abril de 2010

-CAminhante, qual a questão?

É por onde piso enquanto estou a caminhar. A questão é o que questionar. É o que quero enquanto devo. É o que devo enqtanto quero. Fazer, pensar. Continuar ou quebrar o passo e a velocidade do andar?

domingo, 28 de março de 2010

tristeza do jéca

Me organizar... (???) O que eu quero com isso? o que estou buscando com todos esses movimentos (novos?).
Vontade de abandonar um pouco de tudo. Me embreagar por aí sem pensar muito em mim. Quero um pouco de mundo. Me poluo de excesso e incessantes questões. Tá meio chato, sabe?
É que pareço me acinzentar com essa cidade. Cada vez mais opaco me camuflo no meio de tantos tons sem brilho. Não ouço pássaros há tempos neste lugar... Ir ao Zoo e fingir que sorrio com essas grades?
Por favor, não me socorram. Ainda resta um resto de insatisfação com isso tudo. Ainda tenho a inquietude como semente. Não há motivos para me notarem. Preciso que eu me note e perceba que tá triste aqui. Para perceber só que to triste e abraçar meu travesseiro e chorar um pouco.
O cenário está propício para a meia luz, para a solidão, para uma bom trago de cachaça...Tem drama não...são só questões de ser, e não precisam se estender em muitas. Ainda há algo que devagarzinho pede passagem. Ainda não sei o que se passa, mas vou acompanhando esse fluxo calmo... e triste.
Não há desespero, só solidão

segunda-feira, 8 de março de 2010

Sede

Água
Muita água
Água quente, água gelada, água cremosa, água ensopada
Tenho sede de mais água
e não cessa.

Água ardente
com goles largos
Água de gargalo
com rio abaixo
molhado

A pele ta seca
A lingua ta lixa
Cabelo empoeirado
e unha roída, doída, inflamada

Mais água
um balde
banheira
de gelo
geleira

Que eu lambo
tomo
molho
mergulho

Mas essa sede nunca passa

Suor salgado
arenoso, pegajoso
por dentro gruda
paredes de entranhas.
Suja, deserto de mim!!!
estranha, estranho
Parada.

E lasca
quebra
cai
e se estilhaça.

Desespero de garganta áspera
pena, farinha e desgraça
a água só passa
não embassa, não encharca

Me encharca
É de água
Minhágua
ÁGUA
Água
água
gota d´dágua

quarta-feira, 3 de março de 2010

Colírios Anti-psicóticos...pingou e ficou cego

SEGUNDA-FEIRA, 1 DE MARÇO DE 2010/3 DE MARÇO DE 2010

.
Atingiram em cheio a íris-arco, a menina que morava nos olhos, as cataratas que refletiam...
O que há entre aqui - contorno plasmático- e o mundo? Que pele é essa? Viscosa, que pisca através de para-brisas. Pálpebras param as brisas? Brisas... De olhos fechados veja o rosa de dentro.
"E de dentro me perco onde não sei se o que sei é sabido por quem olha de lá. Só eu posso ver o que vejo. Ver: ... sabe-se o?."
Qualquer forma ao se colocar olhos parece tornar-se Viv0:-I. Mas é quando estão fechados que se tem o medo do que não se pode ser.
"O que eu não sou?"
Fechados, habita lugares só meus, eu, acompanhado. É mesma sensação de cobrir a cabeça com lençóis. É não saber se me vêem, não me importar. Observa se estou a sorrir, mas nunca saberá pra qual canto vejo. E se vejo canto, ou grito que calo.
Vela meu sono, olhos fechados. Vela as visões protegidas pela Santa pálpebra com seu manto estrelado. Vela onde passeio e ninguém pode me alcançar, acompanhar, compartilhar. És companheira de São Jorge? Por aqui tenho companhia solitária. Seguro, fecho os olhos.
Há mundos neste mundo que não preciso, não quero e não posso compartilhar. Nesta hora prefiro a solidão de estar

sábado, 27 de fevereiro de 2010

tornozeleiro

Após a festa do Mómo caduco paulistano desvairado.
Depois da revolta jovial no tunel do tempo maluco querido sem-teto abraçado
Cá estou eu.

Parado no sofá-cama na sala de perna pro ar.
Engessado por fora.
E mil e uma outras coisas pensando em mim.
Encaroçado ou noiado?
Muleta pra poder mijar.
Banho?
E o tempo lá fora começa a soprar frio.

F-A-M-Í-L-I-A.
Isso sim é invenção estranha.
Férias ou prisão domiciliar?

Foi assim que contei:
Pisei num buraco, num estacionamento, numa formatura, numa assis. Torci, torci, torci...
até torcer de vez
o tornozelo...

aí, aqui, ou paro ou paro...penso muito na vida. tava precisando. introspectivo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O carnaval passeamos be(m).
São Paulo graciosa nas ruas. Foliões - amigos da Folia.
Foligem paulistana. Confetes? Pé, perna. POde chorá, pode chorá, pode chorá...alegremente cantada pelas ruas da cidade Absurdo.
LAdeira silenciosa. Batuques? Maracatu?...em passos avante......caipirinhas verdes em copo gelado. Paradas.... e depois mais povo...
São cinzas confetinadas, confetes acinzentados....folia, foligem....

sábado, 13 de fevereiro de 2010

"é carnaval
uma doce ilusão
é promessa de vida
no meu coração"

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Metrô

-É que dá uma canseira de vez em quando.
-Mas que horas são?
-Não sei. Não sei. Não sei. É que de vez em quando dá uma canseira.
-Mas que horas são?
-Não sei, porra.

Silêncio. Estação Liberdade. Estação respire fundo, olhe lá fora como rápido passa o chão listrado de trilhos de ferro. Estação São Bento. De óculos e rugas, cabelo cinza, sacola com flores secas e um espirro. Armênia... sai do buraco e ganha a luz...sol, sol, sol....rio fedido.
"Depois haverá vento. Depois haverá vento"

-Que horas são?
-Falta 15. Vamu aê.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Uma volta

O menino sapeca resolveu dar uma volta pela cidade. Estava cansado de chutar pedras do meio do caminho. Estava cansado de infernizar a irmã com apelidos desagradáveis. Estava cansado de enfiar o dedo no bolo que ainda não tinha corte. Estava enjuriado com os sustos que dava, com as bolas, as guloisemas e todas as brincadeiras com vizinhança descalça e descabelada.
Saiu sério, com os olhos abertos arregalados. Andou só, andou só, andou só. Em suas idéias lhe visitavam meninos noturnos, meninos chorosos, meninos medrosos. Carregava no pescoço um enrosco (pomo de adão? nó?).
Passou o sol. A lua chegou, foi embora. Caiu folha. Tempestou. Os sinais de transito abriram, fecharam. Estradas foram criadas, pedágios, tuneis, pontes e passarelas. Ventou, ventou, ventou...
Sem bolhas no pé encontrou a moça sentada na beira da calçada. Ela estendeu a mão. Se olharam e ele sentou, um pouco.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Se fez ovo

Não contou pra ninguém porque não tinha um porquê. Fez aquilo desencadeado por uma enorme vontade de. Sabia que iriam chamar aquela atitude de perigosa, arriscada. Sabia que após aquele ato poderia se arrepender, culpabilizar-se. Mas sua boca salivava. Cada góle daquele cuspe molhado era combustível para seguir em frente. Pensava aceleradamente em tudo. Seu corpo respondia abandonando qualquer tentativa de sintonizar-se com vão razão. E balbuciou a si:
-Pensamento cacofônico, irritante, logorreico, não saia de mim.... exploda em nada e dirija-se pro beco sem saída onde não mais lhe encontro.
E fez. O ovo. A incoerência gritada pelos quatro cantos de si- arredondados. Num encontro mais do que público e/ou privado. Se fez. Abandonou aquilo que já foi dito, escutado, falado, murmurado, escrito, gravado. Criou. Deixou o desejo puxá-lo ao entre si e.

E queria de vez em quando, para quebrar a rotina chata e machante dos dias, o ato de aventurar-se em atos de. E mesmo com um quê de repetição, sempre ressoava um respiro de liberdade. Um momento em que, sem dizer pra ninguém, sem ninguém pra dizer...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A borboleta

E num bater de asas lentificado ela faz de si o último esforço de existir-se como tal. Movimenta-se suas cores alaranjadas com pontos azuis e paraliza-se. Uma borboleta que ora era casulo, ora era lagarta que comia verdes folhas e Agora sem se saber como é(ra)se desvai por entre o tempo e o espaço e se finda tranformando-se em outra coisa tal que não se sabe o nome. És poeira? És passado?
Da gargalhada se transforma em sorriso de boca fechada. Da boca arqueada, algo que alguns chamam de pensamento, lhe faz de reta a expressão que cabe inesperada àquilo.
"E os olhos?" Pergunta a boca incontrolável ao sentido que abre janelas.
Eles não respondem. Apenas piscam e se umidificam com águá (salgada?).
Cada fim, sutilmente, marca sem que percebemos a chegada de outrem. E assim vai rasgando a via entupida de esperado. Há sal pra salgar o inóspito. Há açucar pra manchar a lingua áspera de secura monótona.
A formiga morre. A árvore secular morre. O som do pandeiro se termina. E a partir daí é só mistério. O que vem agora depois que a borboleta se foi? O que o silêncio carrega de pensamento? Quem vai te olhar quando não mais há sorrateiros disfarces?
O movimento se apresenta na muda forma estática de um ser que está por vir.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Receita

1 punhado de arroz fresquinho recém refogado com alho e cebola.
1 ovo frito meio mole com algumas pitadas de sal
1 tomate picado e temperado com salsinha, cebolinha e azeite.
1 copo de suco de laranja bem gelado.

Misture tudo dentro de si após degustar tragos de folhas verdes. Coma, feche os olhos, sinta o cheiro. Aí durma. Que delícia

sábado, 9 de janeiro de 2010

Preparou-se para pular abismo a baixo. Mas olhou a janela do apartamento em sua frente. Viu um berço com mobile que dançava. Pensou. Sorriu serenamente. Um passo a frente e caiu. Fim.