segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um sopro de morte

Uma poesia? Calmaria? Me chamaram de niilista, naquele texto que me confundo com o mundo e o mundo comigo. Acharam que era nada de vontade, mas na mais pura verdade, se é que isto é possível, a vontade era de nada, ou da proximidade do vázio de tudo. Cansaço. Estava cansado.
De vez em quando se cansa. Se cansa de tal modo que descanso não é resposta. Não é parar, respirar, cochilar e depois continuar correria. De vez em quando o cansaço é morte, esgotamento de repetição insuportável - Desvio. A gente cansa pra perceber que morreu, que a morte é necessária.
...

Ouvi dizer que ele se enforcou. Será um boato? Não queria este pensamento no sábado a noite. Mas me disseram que ele morreu. Invadiram a mim com esta informação. É a possibilidade da desconhecida morte do conhecido. Será mesmo que ele de lá morreu enforcado? Não podiamos falar de morte num reencontro festivo de sábado a noite. Mesmo sem ver, percebia nos olhares parados que ela estava presente na sala. Por mais que fosse sentida, não era hora de acreditar na morte.
E nietzsche sussurrou:
- E, quando vi o meu diabo, achei-o sério, metódico, profundo, solene. Era o espírito da gravidade - a causa pela qual todas as coisas caem.
Do apartamento ao lado, ouço o velho balbuciar:
-Esta morte eu ofereço à vida...
E então encheu sua xícara lilás de leite, ocupou-se de duas colheres bem cheias de açucar e as despejou. Mexeu e deixou sentir por sua goela deliciosa sensação gelada...
Na TV ligada, o moço famoso concedeu sua última entrevista antes da hora:
-Esta morte eu ofereço aos vivos!
Deu mais um passo e no vermelho tapete pisou. Como se tudo aquilo fosse realmente novo.
E longe ...aquele outro disse:
-Esta morte eu ofereço aos vivos.
Tirou seu sobretudo e pulou no mar


Um comentário:

Fan disse...

Às vezes,no mais íntimo silêncio,prestando bastante atenção,até conseguimos senti-la respirar...