quinta-feira, 23 de abril de 2009
Companheira singela
E aquele rosto me surpreendeu de tamanha beleza e delicadeza, mesmo tendo olhado nele por tantas vezes sem decodificar nada... Sim! Ela é uma companheira.
E não me importa mais se no mundo pareço perdido, pareço sem rumo, se a conta irá ser além do barato. E é na conversa do bar, no dia que a porta abre repentina e entra um ar quente pela nossa casa, cheio de vida....Sim, ela é companheira.
E assim vamos escrevendo uma história linda de viver...cheia de saco-cheio, cheia de "ai-meu-deus-fudeo"...E assim vamos escrevendo com instantes, momentos, lugares verde-laranja, campinas-praça, miséria-fartura....
Sim, ela é companheira!!!!
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Resistor de chuveiro
Acabei de matar mais um bicho de sete cabeças...rs
Sempre fui um cagão. Tenho medo de panela de pressão, de trocar butijão de gás, de acender o forno, e coisas do gênero, assim por diante.
Já ouvi histórias bizarras de uma tia do amigo de um vizinho que perdeu a cabeça cozinhando feijão. Outra em que a panela explodiu, perfurou o chão e foi parar no apartamento de baixo. Coisas na qual nunca soube se eram verdades, mas que me assombravam a cada tssssssssssssssssssssssssssssss...ts ts ts ts...que soava da cozinha... e sempre abrir uma tampa tornou-se com o tempo exercício de extrema coragem para mim... e a cada tampa aberta me sentia aliviado por enfrentar esse medo que parece bobo, mas pode ser "ex-tre-ma-men-te" perigoso (ouço minha vó falando)...rs
Outros medos fui perdendo com o tempo. Acender o forno agora tiro de letra. Apesar de lembrar da cena em que minha mãe pulou para trás junto a um buuuuuuuuuuuum e um clarão que vinha da cozinha...Ela sobreviveu!
Acredito que hoje foi um desses dias marcantes na história de dasafiar a si diante de repertório de referenciais recheados de histórias mirabolantes de horrores e catastrofes (ufa!). hoje, pela primeira vez na vida tive a ousadia e coragem de trocar o resistor do chuveiro...
Após comprar a estranha peça envolvida por um plástico. E depois de perguntar ao vendedor como faria tal substituição, chego em casa animado com esta aventura.
Primeiro passo: desligar a caixa de força e deixar a casa sem energia elétrica. Testo apertar o interruptor das lâmpadas e nada acontece. Pareço estar seguro. Mas e se o chuveiro for ligado a uma caixa especial que ainda não conheço? E se alguém chegar e ao perceber que as luzes não estão acendendo ligar a caixa sem me ver no andar de cima pendurado no chuveiro?
Lembro de mais uma história em que o cara levou um choque enquanto tomava banho e ficou grudado eletrocutado... e o engraçado eh que ao contarem essa história para mim o mais enfatizado pelas pessoas era o fato do sujeito estar pelado... Diziam: "imagine que constrangedor, ele estava pelaaadãããão".. enfim...
Começo a estranha função de recriar uma máquina que transforma água gelada em quente. Conforme indicação do vendedor, desemboco a primeira parte do chuveiro. Desemboco uma segunda parte do chuveiro E me encontro no cerne do problema. A célula de toda questão.
Leio o manual de instruções para não haver falhas. Transpiro. E toco o antigo resistor enferrujado e com ar de cansado. Retiro de sua locação. E com a sensação de estar indo bem, enfio no chuveiro a parte que lhe faltava para esquentar meus banhos quentes de dias mais-ou-menos frios, como o de hoje.
Ouço a voz do vendedor dizendo " Não ligue o chuveiro sem antes preenchê-lo de água, senão queima, senão estraga o resistor, ". Senão.. (viche, penso). Ligo o chuveiro desligado, impotente, servindo só de passador de água...
Logo após ligo a força. As luzes se acendem. E vou correndo ao banheiro verificar se a mágica havia se concretizado. E sim. A água saia morna!
Tiro a roupa. Pego o som. Escolho a trilha sonóra do filme da Amelie Polan...E depois de uma semana tomando banho de canequinha, me enfio embaixo do chuveiro e viajo...feliz da vida por ter conseguido não resistir mais ao resistor... Se bem que o banho com alecrim foi muito bom... e nessa semana certeza que economizamos na conta de luz!
Sempre fui um cagão. Tenho medo de panela de pressão, de trocar butijão de gás, de acender o forno, e coisas do gênero, assim por diante.
Já ouvi histórias bizarras de uma tia do amigo de um vizinho que perdeu a cabeça cozinhando feijão. Outra em que a panela explodiu, perfurou o chão e foi parar no apartamento de baixo. Coisas na qual nunca soube se eram verdades, mas que me assombravam a cada tssssssssssssssssssssssssssssss...ts ts ts ts...que soava da cozinha... e sempre abrir uma tampa tornou-se com o tempo exercício de extrema coragem para mim... e a cada tampa aberta me sentia aliviado por enfrentar esse medo que parece bobo, mas pode ser "ex-tre-ma-men-te" perigoso (ouço minha vó falando)...rs
Outros medos fui perdendo com o tempo. Acender o forno agora tiro de letra. Apesar de lembrar da cena em que minha mãe pulou para trás junto a um buuuuuuuuuuuum e um clarão que vinha da cozinha...Ela sobreviveu!
Acredito que hoje foi um desses dias marcantes na história de dasafiar a si diante de repertório de referenciais recheados de histórias mirabolantes de horrores e catastrofes (ufa!). hoje, pela primeira vez na vida tive a ousadia e coragem de trocar o resistor do chuveiro...
Após comprar a estranha peça envolvida por um plástico. E depois de perguntar ao vendedor como faria tal substituição, chego em casa animado com esta aventura.
Primeiro passo: desligar a caixa de força e deixar a casa sem energia elétrica. Testo apertar o interruptor das lâmpadas e nada acontece. Pareço estar seguro. Mas e se o chuveiro for ligado a uma caixa especial que ainda não conheço? E se alguém chegar e ao perceber que as luzes não estão acendendo ligar a caixa sem me ver no andar de cima pendurado no chuveiro?
Lembro de mais uma história em que o cara levou um choque enquanto tomava banho e ficou grudado eletrocutado... e o engraçado eh que ao contarem essa história para mim o mais enfatizado pelas pessoas era o fato do sujeito estar pelado... Diziam: "imagine que constrangedor, ele estava pelaaadãããão".. enfim...
Começo a estranha função de recriar uma máquina que transforma água gelada em quente. Conforme indicação do vendedor, desemboco a primeira parte do chuveiro. Desemboco uma segunda parte do chuveiro E me encontro no cerne do problema. A célula de toda questão.
Leio o manual de instruções para não haver falhas. Transpiro. E toco o antigo resistor enferrujado e com ar de cansado. Retiro de sua locação. E com a sensação de estar indo bem, enfio no chuveiro a parte que lhe faltava para esquentar meus banhos quentes de dias mais-ou-menos frios, como o de hoje.
Ouço a voz do vendedor dizendo " Não ligue o chuveiro sem antes preenchê-lo de água, senão queima, senão estraga o resistor, ". Senão.. (viche, penso). Ligo o chuveiro desligado, impotente, servindo só de passador de água...
Logo após ligo a força. As luzes se acendem. E vou correndo ao banheiro verificar se a mágica havia se concretizado. E sim. A água saia morna!
Tiro a roupa. Pego o som. Escolho a trilha sonóra do filme da Amelie Polan...E depois de uma semana tomando banho de canequinha, me enfio embaixo do chuveiro e viajo...feliz da vida por ter conseguido não resistir mais ao resistor... Se bem que o banho com alecrim foi muito bom... e nessa semana certeza que economizamos na conta de luz!
Banho de caneca
O que acredita você? Nisto, que os pesos de todas as coisas precisa ser novamente determinados.
O que diz sua consciencia? "Torne-se aquilo que você é".
Nietzsche
Viagens no "A Gaia ciência". Tomando banho com água esquentada com alecrim- pq o chuveiro queimou e não comprei ainda um resistor novo- e comendo bolo de banana com uma calda suculenta em sua superfície...enfim...vivendo...
NA expectativa da próxima viagen.... Assis....retorno à cidade onde vivi cinco anos de minha vida intensamente...Rever amigos, ouvir boa música e me encontrar com combinações que há tempos não visualizo-tateio-escuto-degusto...Poros abertos mas sem medo de me espantar com uma cidade que talves nunca fui......ser turista em cenário conhecido....Assim como as pessoas, as cidades também mudam com a distancia e o tempo. Poros abertos e postura de jovem!
Acho que sairei da frente desse computador e irei comprar um resistor para o chuveiro. Banho de água esquentada com alecrim é gostoso....mas as vezes precisamos mesmo é de um tempinho maior embaixo de água quente...
Fui, sem mais delongas...
O que diz sua consciencia? "Torne-se aquilo que você é".
Nietzsche
Viagens no "A Gaia ciência". Tomando banho com água esquentada com alecrim- pq o chuveiro queimou e não comprei ainda um resistor novo- e comendo bolo de banana com uma calda suculenta em sua superfície...enfim...vivendo...
NA expectativa da próxima viagen.... Assis....retorno à cidade onde vivi cinco anos de minha vida intensamente...Rever amigos, ouvir boa música e me encontrar com combinações que há tempos não visualizo-tateio-escuto-degusto...Poros abertos mas sem medo de me espantar com uma cidade que talves nunca fui......ser turista em cenário conhecido....Assim como as pessoas, as cidades também mudam com a distancia e o tempo. Poros abertos e postura de jovem!
Acho que sairei da frente desse computador e irei comprar um resistor para o chuveiro. Banho de água esquentada com alecrim é gostoso....mas as vezes precisamos mesmo é de um tempinho maior embaixo de água quente...
Fui, sem mais delongas...
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Um estranho "ameaço"
As portas das praças estão abertas. Mas ninguém se atreve a atravessá-las, e menos ainda em parar embaixo de alguma árvore e sentar. Vejo apenas, da janela de meu apartamento, sombras solitárias balançadas pelo vento da madrugada.
Aonde aprisiona-se cada mundo?
Em cada casa acompanhado de outros mundos supostamente conhecidos... MEU computador, MINHA televisão, MINHA família, MEU cachorro e assim por diante.
Após ouvir histórias de assalto pela redondeza de MINHA casa fui consumido por um andar diferente de MINHAS pernas pelas ruas. Desconfiado, parecia que os passos acelerados poderiam me levar rapidamente ao território que aproxima o Eu ao MEU. E estrangeiro de minha raça, humana, vejo naquele que caminha uma suposta ameaça, um suposto invasor de mim. E não é apenas medo de ser abordado com um revólver ou um estilete. Vejo nas ruas da cidade, no público que compõe o público, ameaças de mulheres que também aos passos rápidos enxugam lágrimas que brotam de si. Me ameaço quando corpos estendidos pelo chão se tornam meros objetos de uma decoração invisível. Me ameaço quando me perguntam as horas e quando me pedem moedas.
Nos sinais, ao atravessar as faixas brancas pintadas no asfalto negro, vejo os carros -à espera do sinal verde- simultaneamente fecharem suas janelas para que não haja invasões, devido a ameaça.
Mas que ameaça é esta que no repente do andar, que no virar do pescoço se mostra, se sente? não sei o que ela é, mas invisivelmente vem se esconder em mim.
Como se pelas ruas os mundos desconhecidos tivessem grades. Como se eu fosse bexiga que lentamente se esvazia.
Uma ameaça-vírus que se propaga no invisível. Com cada notícia de assalto, com cada muro erguido em condomínios, com o espetáculo gerado por crianças arremessadas de prédios e namorados que matam amores.
Mas não são notícias, nem assuntos que me invadem como se em mim houvesse apenas receptáculo de horrores. As ameaças perduram pois nelas consigo firmar o confortável lugar do comodismo.
Sendo assim, me ameaço. Me ameaço para tentar salvar esse cotidiano redondo, sem relevo, que carrego todo dia. Para que somente em minha companhia esteja o conhecido, o previsível... As praças de madrugada continuarão vazias. Nos ônibus os assentos com dois lugares vagos serão preenchidos primeiro. Nas filas continuará o solitário pensar de vidas ameaçadas.
Vamos lá, seres humanos! A verdade não existe, se desfaz no encontro com o novo.
E grito o que em mim me ameaço, para que eu possa me dissolver, me misturar, me expandir com um "oi", ou então com uma afirmação: "Você é meu companheiro"...e assim estabelecer diálogo. Nada tem que ser como parece ser...
Diálogo (Caio Fernando Abreu)
A: Você é meu companheiro.
B: Hein?
A: Você é meu companheiro, eu disse
B: O quê?
A: Eu disse que você é meu companheiro.
B: O que é que você quer dizer com isso?
A: Eu quero dizer que você é meu companheiro, Só isso.
B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.
A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.
B: Não é disso que estou falando.
A: Você está falando do quê, então?
B: Estou falando disso que você falou agora.
A: Ah, sei. Que eu sou teu companheiro.
B: Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro.
A: Você também sente?
B: O quê?
A: Que você é meu companheiro?
B: Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei.
A: Atrás do companheiro?
B: È.
A: Não.
B: Você não sente?
A: Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. E você, não?
B: Não. Não é isso. Não é assim.
A: Você não quer que seja isso assim?
B: Não é que eu não queira: é que não é.
A: Não me confunda, por favor, não me confunda. No começo era claro.
B: Agora não?
A: Agora sim. Você quer?
B: O quê?
A: Ser meu companheiro.
B: Ser teu companheiro?
A: È.
B: Companheiro?
A: Sim.
B: Eu não sei. Por favor não me confunda. No começo era claro. Tem alguma coisa atrás, você não vê?
A: eu vejo. Eu quero.
B: O quê?
A: Que você seja meu companheiro.
B: Hein?
A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.
B: O quê?
A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.
B: Você disse?
A: Eu disse?
B: Não, não foi assim: eu disse.
A: O quê?
B: Você é meu companheiro.
A: Hein?
(ad infinitum)
Texto desencadeado após encontrar-me com o filme "O Anjo Exterminador", 1963. Dir.: Luis Buñuel
O solitário - Nietzsche, 1882
Para mim é odioso seguir e também guiar.
Obedecer? Não! E tão pouco -governar!
Quem não é terrível para si, a ninguém inspira terror:
E somente quem inspira terror é capaz de comandar.
Para mim já é odioso comandar a mim mesmo!
Gosto, como os animais da floresta e do mar,
De por algum tempo me perder,
De permanecer num amável recanto a cismar,
Seduzindo-me para voltar a mim
Obedecer? Não! E tão pouco -governar!
Quem não é terrível para si, a ninguém inspira terror:
E somente quem inspira terror é capaz de comandar.
Para mim já é odioso comandar a mim mesmo!
Gosto, como os animais da floresta e do mar,
De por algum tempo me perder,
De permanecer num amável recanto a cismar,
Seduzindo-me para voltar a mim
sábado, 18 de abril de 2009
Goles de si
E ao abrir os olhos depois de um repentino piscar viu à sua frente as mesmas cores com outras tonalidades. Sentiu-se confortavelmente possível pois sentia que mudava a temperatura do ar, que um pássaro ao longe naquele instante resolveu cantar e que a senhora que cortava a rua soltou um arroto expressado de maneira tão grave que aquele corpo aparentemente frágil guardava em si a força de mover o ar, com força.
E então percebeu que a explicação é mero exercício banal e descrever é síntese entre corpo e mundo.
Coçou a bunda e caminhou mais um pouco.
A folha balança no alto. Sem pretenção de cair.
O vento sopra. De onde veio? Não importa.
Eles se encontram. E num doce bailar se juntam. E se levam. A folha e o vento.
Organizou a pia para lavar a louça. Separou em um canto todos os talheres. As panelas engorduradas preencheu com água e detergente e as colocou para o depois em cima do fogão. Copos próximos e pratos empilhados. Enxarcou a bucha com espuma. Abriu a torneira e deixou a água jorrar pelas suas mãos. Lavou. E aos poucos tudo se transformara. Todas as louças livres de restos. Com comida crua repreencheu . Ao fogo misturou, temperou e degustou....
Ao ouvir o telefone tocar, abaixou o som da vitrola - o trecho era " procissão, espalhando todo povo pelo chão...". Atendeu e só escutou o ruído de uma ligação perdida. Foi à geladeira, abriu uma lata de cerveja e de gole em gole pensava no que sentiu da Vida...
E então percebeu que a explicação é mero exercício banal e descrever é síntese entre corpo e mundo.
Coçou a bunda e caminhou mais um pouco.
A folha balança no alto. Sem pretenção de cair.
O vento sopra. De onde veio? Não importa.
Eles se encontram. E num doce bailar se juntam. E se levam. A folha e o vento.
Organizou a pia para lavar a louça. Separou em um canto todos os talheres. As panelas engorduradas preencheu com água e detergente e as colocou para o depois em cima do fogão. Copos próximos e pratos empilhados. Enxarcou a bucha com espuma. Abriu a torneira e deixou a água jorrar pelas suas mãos. Lavou. E aos poucos tudo se transformara. Todas as louças livres de restos. Com comida crua repreencheu . Ao fogo misturou, temperou e degustou....
Ao ouvir o telefone tocar, abaixou o som da vitrola - o trecho era " procissão, espalhando todo povo pelo chão...". Atendeu e só escutou o ruído de uma ligação perdida. Foi à geladeira, abriu uma lata de cerveja e de gole em gole pensava no que sentiu da Vida...
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Minhas páginas em branco
A vida que se conta como se fosse um livro separado por capítulos deixa entre cada fim de trecho um buraco que realmente somente páginas brancas podem preenchê-lo. É como se em um certo momento eu pingasse a caneta marcando um ponto final e depois virasse a folha e recomeçasse a escrever a continuidade de um corpo que não é mais o mesmo, mas representa o mesmo personagem. Agora vestido de nova roupagem e olhado por outras nuances de olhares. Como se ao terminar o capítulo intitulado criança apagassem as luzes e ao abrir novamente a cortina surgisse um adolescente desengossado, um ator ainda terminando de se vestir para contracenar com um cenário que venerava desde antes e que agora o coloca diante de holofote intenso, de falas onde o usual são palavras que seu idioma até então desconhecia.
Me disseram que poderia escrever minha história da maneira que eu quisesse - lembro quando isso foi dito minutos antes daquela luz de mesa cirúrgica ofuscar meus olhos que somente enxergavam vermelho. Também lembro do médico dizer para a enfermeira que eram 07:05, para que registrasse meu primeiro nascimento, e consequentemente meu primeiro falecimento. Não poderia mais habitar o antigo teatro... e neste instante esguelei de chorar, apesar disso não me lembrar, fiquei um tanto surdo com o grito de mim...
-Escreva o livro, mas respeite os limites dado a cada capítulo. Não ultrapasse o número de páginas, não ultrapasse o tempo de escrita...seja rápido, corra atrás daquele que você será daqui a pouco...Vá se despindo, vá vestindo.... Nãããão! não sobreponha nem fique pelado... corre, corre que agora vai recomeçar!
E já estava eu de novo sendo outro...ora de barba, ora me embreagando de primeiras masturbações, beijos, sexo...
E no enrosco de cada página branca que precedia cada capítulo "novo" havia momentos lindos que tenho a sensação que esqueci. E aquém das vozes que ditavam o tempo que se esgotava havia choros frenéticos gritados na cochia. Nada mais que o encontro entre meus eus que se entendiam com linguajar próprio...Pudia acordar-me (tanto no que diz de contratuar como de despertar) comigo mesmo que multiplos elementos podem sim habitar o mesmo corpo. E a subita imposições de vozes eram somente ventos exteriores que inventavam espaços e que serviam carapaças... O grito cessava, assim como o primeiro choro, contudo deixavam ressonancias que tremiam não mais pele visível, mas carne, visceras... e sempre nas cochias me encontrava com os outros eus...que juntos choravam, brincavam, sorriam das vozes. Vozes que eu fazia questão de torna-las surdas. Elas não conheciam meu alfabeto...
E assim agente vai vivendo... Apesar daquilo que pensa ler-nos. Eles não sabem de nada... nem eu mesmo sei.
As páginas brancas na verdade estão escritas de branco, eu lembro muito bem quando as escrevi. Tornaram marcas invisíveis com o tempo, mas ao tocar o papel eram recheadas de textura úmida. E confesso que o livro inteiro está escrito de branco. O que hoje escrevo aqui é apenas a versão que a voz acha ser a real...
O que detêm a mistura de todas as cores é o branco ou o preto?
Texto desencadeado após assistir "Buenos Aires 100 Km", 2004. Dir. Pablo José Meza
Me disseram que poderia escrever minha história da maneira que eu quisesse - lembro quando isso foi dito minutos antes daquela luz de mesa cirúrgica ofuscar meus olhos que somente enxergavam vermelho. Também lembro do médico dizer para a enfermeira que eram 07:05, para que registrasse meu primeiro nascimento, e consequentemente meu primeiro falecimento. Não poderia mais habitar o antigo teatro... e neste instante esguelei de chorar, apesar disso não me lembrar, fiquei um tanto surdo com o grito de mim...
-Escreva o livro, mas respeite os limites dado a cada capítulo. Não ultrapasse o número de páginas, não ultrapasse o tempo de escrita...seja rápido, corra atrás daquele que você será daqui a pouco...Vá se despindo, vá vestindo.... Nãããão! não sobreponha nem fique pelado... corre, corre que agora vai recomeçar!
E já estava eu de novo sendo outro...ora de barba, ora me embreagando de primeiras masturbações, beijos, sexo...
E no enrosco de cada página branca que precedia cada capítulo "novo" havia momentos lindos que tenho a sensação que esqueci. E aquém das vozes que ditavam o tempo que se esgotava havia choros frenéticos gritados na cochia. Nada mais que o encontro entre meus eus que se entendiam com linguajar próprio...Pudia acordar-me (tanto no que diz de contratuar como de despertar) comigo mesmo que multiplos elementos podem sim habitar o mesmo corpo. E a subita imposições de vozes eram somente ventos exteriores que inventavam espaços e que serviam carapaças... O grito cessava, assim como o primeiro choro, contudo deixavam ressonancias que tremiam não mais pele visível, mas carne, visceras... e sempre nas cochias me encontrava com os outros eus...que juntos choravam, brincavam, sorriam das vozes. Vozes que eu fazia questão de torna-las surdas. Elas não conheciam meu alfabeto...
E assim agente vai vivendo... Apesar daquilo que pensa ler-nos. Eles não sabem de nada... nem eu mesmo sei.
As páginas brancas na verdade estão escritas de branco, eu lembro muito bem quando as escrevi. Tornaram marcas invisíveis com o tempo, mas ao tocar o papel eram recheadas de textura úmida. E confesso que o livro inteiro está escrito de branco. O que hoje escrevo aqui é apenas a versão que a voz acha ser a real...
O que detêm a mistura de todas as cores é o branco ou o preto?
Texto desencadeado após assistir "Buenos Aires 100 Km", 2004. Dir. Pablo José Meza
quarta-feira, 15 de abril de 2009
...
...
"Existe algo terrível na realidade, eu sei oo que é, mas não quuero dizer"
Almodovar
E nesse ridículo que é viver saio em alta velocidade pelas estradas que me ligam do agora a outras horas. Fugir às vezes é ato de coragem. Ato de renúncia ao que é dado como imposição de ser. E com maquiagem pinto a face preta-e-branca da realidade. O caos ganha gosto de vinho branco seco gelado e no fundo de toda perdição encontro em minha casa de sempre uma criança de dois anos que sorri, brinca e me chama de bobo...
Almodovar
E nesse ridículo que é viver saio em alta velocidade pelas estradas que me ligam do agora a outras horas. Fugir às vezes é ato de coragem. Ato de renúncia ao que é dado como imposição de ser. E com maquiagem pinto a face preta-e-branca da realidade. O caos ganha gosto de vinho branco seco gelado e no fundo de toda perdição encontro em minha casa de sempre uma criança de dois anos que sorri, brinca e me chama de bobo...
sexta-feira, 10 de abril de 2009
o balançar de uma menina...
Quando olho pela janela vejo a menina dançando. Por meio de ares, pulos, andares. Ela não sorri, apenas fecha seus olhos e deixa todas as notas, batidas e ritmos serem seu corpo. Ela é o seu corpo, não faz dele instrumento de mentiras para ninguém. A menina dança.
Tudo ao seu fundo é estático: Árvores, céu e um homem que vende balões. Ninguém a vê. São corpos ilustrativos, destes que passamos sem existirem, sem esbarrarmos, que marcham. É tudo cenário. Somente a menina existe de verdade, pois ela está de olhos fechados.
Sua dança é uma mistura de vento e notas musicais. Seus braços parecem pêndulos e suas pernas são como varetas jogadas de mãos dispostas a brincar.
Sem parar, a música toca em um ritmo incessante e nada muda em meus olhos, sempre vejo a menina dançando entre cenários humanos. Mas ela está de olhos fechados e só o que ela vê é de verdade. Ela é seu corpo.
Tudo ao seu fundo é estático: Árvores, céu e um homem que vende balões. Ninguém a vê. São corpos ilustrativos, destes que passamos sem existirem, sem esbarrarmos, que marcham. É tudo cenário. Somente a menina existe de verdade, pois ela está de olhos fechados.
Sua dança é uma mistura de vento e notas musicais. Seus braços parecem pêndulos e suas pernas são como varetas jogadas de mãos dispostas a brincar.
Sem parar, a música toca em um ritmo incessante e nada muda em meus olhos, sempre vejo a menina dançando entre cenários humanos. Mas ela está de olhos fechados e só o que ela vê é de verdade. Ela é seu corpo.
terça-feira, 7 de abril de 2009
"A relevância do eu-interior" e|ou "Carcaça de veludo"
Sim, agora me conhecerei por dentro de verdade. Tomei esta decisão por reconhecer a importância de poder ver as formas e cores que em mim habitam. Afinal de contas a maioria das pessoas já tem acesso a seu conteúdo e me disseram que alguns profissionais, que estão começando neste ramo agora cobram preços bem reduzidos e parcelam em muitas vezes o serviço completo.
Lembro do meu espanto quando pela primeira vez ouvi falar destas técnicas. Foi em uma das exposições de um tal museu de arte contemporânea pós-pós-moderna de alguma cidade conhecida por seu espírito de vanguarda. Caderno de Cultura do Jornal do estado, era isso, há mais ou menos uns dezesseis anos atrás. A reportagem localizava-se na metade da folha inferior daquela página, algumas fotos mostravam o trabalho artístico. Achei interessante, fotos de vários ângulos, focos e enquadramentos. Em entrevista, o artista explicava que gostaria de lançar um novo olhar ao que era de mais profundo nos seres humanos. O trabalho consistia em expor ao público fotos de pessoas no meio de processos cirúrgicos. O fotógrafo tentava se deter ao que aparecia depois dos cortes, ao que vinha aos olhos depois de ser rasgado. Contou que as pessoas que permitiram ser fotografadas ficaram lisonjeadas com o resultado daquela experiência, pois tinham a sensação ao se depararem com o que lhe preenchia por dentro, de que naquele momento todo um recheio tomava conta de um vazio que carregavam durante toda a vida.
O assunto apareceu em algumas rodas de conversa em bares e na hora do café-cigarro. Alguns achavam extremamente estranho, e riam desta “maluquice”. Outros diziam que podia ter à ver mesmo, pois estudos anteriores revelavam muito de alguém através da leitura da íris ou das mãos ou dos fios de cabelo e acreditavam que talvez por dentro que encontraríamos as explicações de cada existir e o estancamento de todo sofrer. Depois de algumas semanas o assunto não mais foi pauta, no lugar dele vieram o fim da novela das oito, o casamento de Suzy Malaquias e depois três pontinhos e depois três pontinhos e depois...preenchimento de tédio, enchimento do tédio, esvaziamento do tédio...enfim, conversas cotidianas.
Já havia me esquecido desta história de tirar fotos de operações, de tentar enxergar o que há dentro de cada um. Mas esses dias atrás, enquanto dava pipoca aos pombos da Praça Carlos Gomes, vejo uma senhora gorda de vestido florido correndo em direção a um senhor magrelo de chapéu de palha dizendo que havia ficado pronto. Carregava entre seus braços um aveludado álbum vermelho. O senhor corcunda sentou em um dos bancos expressando um som que parecia o ranger de uma porta. A senhora sentou-se ao lado dele, abriu as pernas deixando aparecer uma espécie de meia-calça e abriu o álbum onde de longe tentei olhar e ouvir. “Essa é da redução de estômago, mor. Com esse fecho cinco”. O senhor contraía e relaxava seus lábios, emitindo somente grunidos...
Lembro do meu espanto quando pela primeira vez ouvi falar destas técnicas. Foi em uma das exposições de um tal museu de arte contemporânea pós-pós-moderna de alguma cidade conhecida por seu espírito de vanguarda. Caderno de Cultura do Jornal do estado, era isso, há mais ou menos uns dezesseis anos atrás. A reportagem localizava-se na metade da folha inferior daquela página, algumas fotos mostravam o trabalho artístico. Achei interessante, fotos de vários ângulos, focos e enquadramentos. Em entrevista, o artista explicava que gostaria de lançar um novo olhar ao que era de mais profundo nos seres humanos. O trabalho consistia em expor ao público fotos de pessoas no meio de processos cirúrgicos. O fotógrafo tentava se deter ao que aparecia depois dos cortes, ao que vinha aos olhos depois de ser rasgado. Contou que as pessoas que permitiram ser fotografadas ficaram lisonjeadas com o resultado daquela experiência, pois tinham a sensação ao se depararem com o que lhe preenchia por dentro, de que naquele momento todo um recheio tomava conta de um vazio que carregavam durante toda a vida.
O assunto apareceu em algumas rodas de conversa em bares e na hora do café-cigarro. Alguns achavam extremamente estranho, e riam desta “maluquice”. Outros diziam que podia ter à ver mesmo, pois estudos anteriores revelavam muito de alguém através da leitura da íris ou das mãos ou dos fios de cabelo e acreditavam que talvez por dentro que encontraríamos as explicações de cada existir e o estancamento de todo sofrer. Depois de algumas semanas o assunto não mais foi pauta, no lugar dele vieram o fim da novela das oito, o casamento de Suzy Malaquias e depois três pontinhos e depois três pontinhos e depois...preenchimento de tédio, enchimento do tédio, esvaziamento do tédio...enfim, conversas cotidianas.
Já havia me esquecido desta história de tirar fotos de operações, de tentar enxergar o que há dentro de cada um. Mas esses dias atrás, enquanto dava pipoca aos pombos da Praça Carlos Gomes, vejo uma senhora gorda de vestido florido correndo em direção a um senhor magrelo de chapéu de palha dizendo que havia ficado pronto. Carregava entre seus braços um aveludado álbum vermelho. O senhor corcunda sentou em um dos bancos expressando um som que parecia o ranger de uma porta. A senhora sentou-se ao lado dele, abriu as pernas deixando aparecer uma espécie de meia-calça e abriu o álbum onde de longe tentei olhar e ouvir. “Essa é da redução de estômago, mor. Com esse fecho cinco”. O senhor contraía e relaxava seus lábios, emitindo somente grunidos...
quinta-feira, 2 de abril de 2009
...
"E a coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais..."
O mundo tem portas, ou melhor, é elastico, ou melhor ainda, é gasoso. Ora se comprime, ora se expande. E esse é o movimento da vida.
Importante respeitar o "às vezes". Às vezes as estrelas, às vezes o chão. Às vezes o olho coberto de pápebra que não quer acordar.
E a partir disso pensar as casas, as caras, as pessoas, o si com o contato do outro.
Eita vida danada.
O futuro nesse momento é apenas um horizonte cheio de neblina...nuvem que poderá se dissipar...
Amigos-amores:
Dedico à vocês minha inquietude por querer viver. Apesar do debater-se às vezes parecer ser o movimento que resta. Não nos iludemos. A beleza de nossa vida sempre foi composta por pinceladas sutis. Me borre com cores que chegam a bosta e de repente pinga azul. Misture branco, mas não torne a mistura homogênea.
Deixe traços de bosta, deixe traços de azul, deixe traços de branco.
Ah! Se o amarelo de sol fosse sempre tinta....não é, amigo. Ele ás vezes cega vista dormente de sonos contínuos e escuros. Ele nem sempre é belo.
E essa atmosfera que de longe, pela televisão, grita que o mundo está em crise....que mundo é esse?
Lembremos do caminhar por ruas onde o que cercava não era somente ar leve...lembremos de todo o ar pesado, que belo, preenchia a vida....
Quanta coisa chata que se há de viver...Quantas coisas que deslizam sobre nós sem que passassem pelo nosso escolher...Ah! vá se fuder.
Amigos-amores...acho que a vanguarda está um tanto demodè. Então não sejamos mais o que diz do futuro, nem do passado. mas que nesse momento em que o mais sólido é abstrato como um grito gritado à ouvidos surdos...sejamos a calma de uma dor passageira, de um desespero alegre.
Alguém será que pode me dizer nesse momento o que é o mundo?
Nããããããããão. Não me venha com churumelas. não me venha com explicações. Decididamente não quero.
Quero movimento de estar junto, seja em silêncio, seja no desconforto de não saber o que falar. Mas junte aí comigo....
Ó fantasma do desespero que insiste em me assombrar. Pra ti faço a careta mais engraçada que consigo. Por mais que pareça trágica.
E tudo que ofereço é meu calor, meu endereço.
Meus queridos, não me façam só. Sei que isso também é muito ilusório para nós. Que usemos os telefones, os Msns da vida, a telepatia, a alucinação de estarmos perto quando a garganta aperta.
Amo vocês...por mais piegas que possa parecer...e foda-se o que parece ser. O que parece é nada mais que contra-ponto ao invisível. E vem cá, tem coisa mais bela que o invisível? Cheio de espaços vázios a preencher...
Nos esbaldemos de invisível.
Ei, estamos aí... na mesma barca...nesse mundão de oceano...
E daqui falo nesse blog, que muitas vezes me socorre do falar-me a mim mesmo...é muito bom ouvir sussurros de outros....não me deixem somente entregue ao que é meu. o meu é muito pouco, é muito interior. Quero mundo(s). Quero vias. Quero expressão de vidas. Ler o que se passa por vidas próximas a minha é aconchego de grito que não se perde no vázio. Comentem idéias. Me marquem também com suas marcas. isso me faz bem...
Valeu Du...força na piruca...e vamu que vamu!
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