quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Tantonto

Nônibus cheio de gente apertada de quietude.
A rua grita buzinas e celulares ocos.
Minhas mãos frias em suas pontas tremem medo de enlouquecer.

Desequilibro nas curvas bruscas e esbarro noutros.
Na calçada os olhos não olham minha cara de espanto com o não sei de mim.
O suor mela meus dedos presos em bota grossa de couro.

Escuto música dentro do ouvido só meu.
Trupico.
Ninguem percebe que minha visibilidade me aperta.

Ai, quantos rumores e riscos e ruídos e cochichos.

Cochilo sentado de tanto pensar.
Acordo com os fones ainda pendurados em minha orelha, mas não há mais sons.
Um silêncio reconfortante respira.
Quietinho invisibilizo o meu existir acoado no último banco da lotação vazia.

2 comentários:

Fan disse...

E dentro de cada rosto estranho tocava uma música, uma alegria ou uma agonia.
E sempre me agonia pensar nas curvas de solidão acompanhada!

Jaqueline Zaia disse...

Placa, rua, roda.
Gente estranha, morta.