Desde que o Samba é Samba(Caetano Veloso)
Int.: A7+ E5+/7
A7+ E7 A7+ A7/9
A tristeza é senhora
D7+ G7/9 C#7/13 F#7/9
Desde que o samba é samba é assim
Bm7 E7 F#m7
A lágrima clara sobre a pele escura
B7/9 E7
À noite a chuva que cai lá fora
A7+ E7 A7+ A7/9
Solidão apavora
D7+ G7/9 C#7/13 F#7/9
Tudo demorando em ser tão ruim
Bm7 E7/13 F#m7 B7/9
Mas alguma coisa acontece no quando agora em mim
Bm7 E7 A7+ E7
Cantando eu mando a tristeza embora
Bm7 C#7
O samba ainda vai nascer
F#m7 G#7
O samba ainda não chegou
C#m7 F#7/9
O samba não vai morrer
F#m7 B7/9
Veja, o dia ainda não raiou
Bm7 C#7
O samba é pai do prazer
F#m7 G#7/9-
O samba é filho da dor
C#m7 F#7 B7/13 B5+/6 Bm7
O grande poder transformador
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
sábado, 19 de dezembro de 2009
18, 12-12-09
Sexta 18
E em frente ao cemitério, enquanto o asfalto fica ocupado por carros parados, olho. O vermelho aceso do semáforo sinaliza próspero sincronismo dos pés no bréque. Bem no meio, envolvidos eles estão.
Ela, com seus cabelos brancos, dorme de boca aberta. Ele, ao lado, espera o verde sinal da continuidade do prosseguir.
E no meio desta tarde quente de sexta, onde tenho a seguir semana de ponteiros desgovernados de ordens alheias, olho.
A espera do ônibus laranja escrito "Card Alm" paraliso o corpo suado e quente. Sensação não se descreve o tempo todo. Sensação sem nome de sentimento é Aquilo, Isso, ...
De repente o Acaso pode tomar conta de corpo e criar (in)forma. E não há alarde de pensamento/escrita brusca.
Emsimesmado é quando? Se me invade o outro quando estou só. Será que emsimesmado se confunde com emsioutrado sempre? Esses outros que ultrapassa corpo delimitado por pele e pêlo. O outro é calor de sol, é boca aberta que desvenda nuances de língua, de céu(,) de boca.
A velha dormia no carro (segura) em seus sonhos de sonos paulistanos.
Sábado 12
Clarice me encontrou nesse sossegado sábado de dezembro. Cada vez me convenço que o pensamento pode ser literário e vice-versa. Vida obra de arte?
"Porque hoje é sábado"(V.M)... dia de curtir a casa, de curtir vida-eu e tudo que mais couber conectar. Dia de larica existencial com mesa farta!
"Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-la na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço."
"A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas, enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro chegasse."
"(...)Nas bilhas estava o leite, como se tivesse atravessado com as cabras o deserto dos penhascos. Vinho, quase negro de tão pisado, estremecia em vasilhas de barro. Tudo diante de nós. Tudo limpo do retorcido desejo humano. 'Tudo como é, não como quiséramos. Só existindo, e todo. Assim como existe um campo. Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e não nós, os ávidos. Assim como um sábado. Assim como apenas existe. Existe" ( A repartição dos pães - C.L.)
E em frente ao cemitério, enquanto o asfalto fica ocupado por carros parados, olho. O vermelho aceso do semáforo sinaliza próspero sincronismo dos pés no bréque. Bem no meio, envolvidos eles estão.
Ela, com seus cabelos brancos, dorme de boca aberta. Ele, ao lado, espera o verde sinal da continuidade do prosseguir.
E no meio desta tarde quente de sexta, onde tenho a seguir semana de ponteiros desgovernados de ordens alheias, olho.
A espera do ônibus laranja escrito "Card Alm" paraliso o corpo suado e quente. Sensação não se descreve o tempo todo. Sensação sem nome de sentimento é Aquilo, Isso, ...
De repente o Acaso pode tomar conta de corpo e criar (in)forma. E não há alarde de pensamento/escrita brusca.
Emsimesmado é quando? Se me invade o outro quando estou só. Será que emsimesmado se confunde com emsioutrado sempre? Esses outros que ultrapassa corpo delimitado por pele e pêlo. O outro é calor de sol, é boca aberta que desvenda nuances de língua, de céu(,) de boca.
A velha dormia no carro (segura) em seus sonhos de sonos paulistanos.
Sábado 12
Clarice me encontrou nesse sossegado sábado de dezembro. Cada vez me convenço que o pensamento pode ser literário e vice-versa. Vida obra de arte?
"Porque hoje é sábado"(V.M)... dia de curtir a casa, de curtir vida-eu e tudo que mais couber conectar. Dia de larica existencial com mesa farta!
"Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-la na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço."
"A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas, enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro chegasse."
"(...)Nas bilhas estava o leite, como se tivesse atravessado com as cabras o deserto dos penhascos. Vinho, quase negro de tão pisado, estremecia em vasilhas de barro. Tudo diante de nós. Tudo limpo do retorcido desejo humano. 'Tudo como é, não como quiséramos. Só existindo, e todo. Assim como existe um campo. Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e não nós, os ávidos. Assim como um sábado. Assim como apenas existe. Existe" ( A repartição dos pães - C.L.)
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Registro mundo(s)
De repente vem uma força que clareia e confortabiliza o todo confuso, transformando-o e mim em paz. Um istante em que os embaraçados fios de diversas histórias, como se fossem nuvens, ganham desenhos já acabados - por mais que depois voltem a se formar em algo quê.
É a hora que o cachorro sarnento se cansa de coçar e encosta-se no canto da parede. Com a cara entre as patas parece suspirar, se esquecendo do incomodo de si.
Pelo chão, às vezes fica tudo espalhado: roupas recém tiradas de um dia suado de trabalho, textos antigos que li pela metade, trocos... e espaços vazios por onde posso pisar e me locomover.
Às vezes fica tudo arrumado: Dobradas, compactuo e empilho todo conteúdo que pairava como pensamento em mim. Encaixo diversas cores e origens, sólidas como massas de modelar - farinha com água e corante a base de suco e/ou compradas na loja de brinquedo da esquina. Modelo os movimentos deste corpo, as maneiras como irá deslocar ar e emitir som - ação e discurso.
Faço natação. Frequento terapia. Converso com loucos. Arrisco um novo romance. Acordo numa manhã chuvosa e tomo café-da-manhã ao som de rádio FM.
A prateleira encostada da nova sala flerta distraidamente com a parede que está a sua frente. Em si tem livros e em seu último andar mora (minha) samambaia com seus cabelos bagunçados. Há também um telefone sem fio e um toca-musica. Vias de se perder o olhar e ganhar caminhos invisíveis. Assim, sem TV, aprendo a construir relações de mundos... que me surpreendem.
Enquanto dormia, nesta madrugada, quatro estouros chacoalharmam meu corpo jogado na cama. As explosões vindas da rua fizeram clarão lá de fora. Pedi ajuda e ligamos para os bombeiros. Eu tremia e meu coração disparava. Os bombeiros disseram que isto era com "o" Eletro Paulo. Seja quem for esse moço, fiquei tranquilizado, e voltei a dormir. Aqui não há incêndios no momento. Só uma chuva que teima em inundar a Marginal Tietê. Estou longe.... e é dia.
É a hora que o cachorro sarnento se cansa de coçar e encosta-se no canto da parede. Com a cara entre as patas parece suspirar, se esquecendo do incomodo de si.
Pelo chão, às vezes fica tudo espalhado: roupas recém tiradas de um dia suado de trabalho, textos antigos que li pela metade, trocos... e espaços vazios por onde posso pisar e me locomover.
Às vezes fica tudo arrumado: Dobradas, compactuo e empilho todo conteúdo que pairava como pensamento em mim. Encaixo diversas cores e origens, sólidas como massas de modelar - farinha com água e corante a base de suco e/ou compradas na loja de brinquedo da esquina. Modelo os movimentos deste corpo, as maneiras como irá deslocar ar e emitir som - ação e discurso.
Faço natação. Frequento terapia. Converso com loucos. Arrisco um novo romance. Acordo numa manhã chuvosa e tomo café-da-manhã ao som de rádio FM.
A prateleira encostada da nova sala flerta distraidamente com a parede que está a sua frente. Em si tem livros e em seu último andar mora (minha) samambaia com seus cabelos bagunçados. Há também um telefone sem fio e um toca-musica. Vias de se perder o olhar e ganhar caminhos invisíveis. Assim, sem TV, aprendo a construir relações de mundos... que me surpreendem.
Enquanto dormia, nesta madrugada, quatro estouros chacoalharmam meu corpo jogado na cama. As explosões vindas da rua fizeram clarão lá de fora. Pedi ajuda e ligamos para os bombeiros. Eu tremia e meu coração disparava. Os bombeiros disseram que isto era com "o" Eletro Paulo. Seja quem for esse moço, fiquei tranquilizado, e voltei a dormir. Aqui não há incêndios no momento. Só uma chuva que teima em inundar a Marginal Tietê. Estou longe.... e é dia.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
A cidade e os olhos - Italo Calvino
São Paulo + outras São Paulo + Casa antiga + Casa Nova + coisas novas + coisas antigas = confusão e frenesi. Encontei-me com Calvino no banheiro. Aqui a chuva cria lagos no meio da rua e filas infindáveis de carros. Estaciona-se "amuntuado" dentro de ônibus que cheira gente molhada ou se corre deixando as gotas espessas espatifarem-se na minha roupa, na minha mochila com livros e agenda abarrotada, na minha pele. Um pouco de água + Liga O Foda-se + Dá gargalhada e enlouquece = Isso... e é isso!
"Ao chegar a Fílide, tem-se o prazer de observar quantas pontes diferentes entre si atravessam os canais: pontes arqueadas, cobertas, sobre pilares, sobre barcos, suspensas, com os parapeitos perfurados; quantas variedades de janelas apresentam-se diante das ruas: bífores, mouriscas, lanceoladas, ogivais, com meias-luas e florões sobrepostos; quantas espécies de pavimento cobrem o chão: de pedregulhos, de lajotas, de saibro, de pastilhas brancas e azuis. Em todos os pontos, a cidade oferece surpresas para os olhos: um cesto de alcaparras que surge na muralha da fortaleza, as estátuas de três rainhas numa mísula, uma cúpula em forma de cebola com três pequenas cebolas introduzidas em sua extremidade. “Feliz é aquele que todos os dias tem Fílide ao alcance dos olhos e nunca acaba de ver as coisas que ela contém”, exclama-se, triste por ter de deixar a cidade depois de tê-la olhado apenas de relance.
Sucede, no entanto, de permanecer em Fílide e passar ali o resto dos dias. A cidade logo se desbota, apagam-se os florões, as estátuas sobre as mísulas, as cúpulas. Como todos os habitantes de Fílide, anda-se por linhas em ziguezague de uma rua para a outra, distingue-se entre zonas de sol e zonas de sombra, uma porta aqui, uma escada ali, um banco para apoiar o cesto, uma valeta onde tropeça quem não toma cuidado. Todo o resto da cidade é invisível. Fílide é um espaço em que os percursos são traçados entre pontos suspensos no vazio, o caminho mais curto para alcançar a tenda daquele comerciante evitando o guichê daquele credor. Os passos seguem não o que se encontra fora do alcance dos olhos mas dentro, sepultado e cancelado: se entre dois pórticos um continua a parecer mais alegre é porque trinta anos atrás ali passava uma moça de largas mangas bordadas, ou então é apenas porque a uma certa hora do dia recebe uma luz como a daquele pórtico de cuja localização não se recorda mais.
Milhões de olhos erguem-se diante de janelas pontes alcaparras e é como se examinassem uma página em branco. Muitas são as cidades como Fílide que evitam os olhares, exceto quando pegas de surpresa."
"Ao chegar a Fílide, tem-se o prazer de observar quantas pontes diferentes entre si atravessam os canais: pontes arqueadas, cobertas, sobre pilares, sobre barcos, suspensas, com os parapeitos perfurados; quantas variedades de janelas apresentam-se diante das ruas: bífores, mouriscas, lanceoladas, ogivais, com meias-luas e florões sobrepostos; quantas espécies de pavimento cobrem o chão: de pedregulhos, de lajotas, de saibro, de pastilhas brancas e azuis. Em todos os pontos, a cidade oferece surpresas para os olhos: um cesto de alcaparras que surge na muralha da fortaleza, as estátuas de três rainhas numa mísula, uma cúpula em forma de cebola com três pequenas cebolas introduzidas em sua extremidade. “Feliz é aquele que todos os dias tem Fílide ao alcance dos olhos e nunca acaba de ver as coisas que ela contém”, exclama-se, triste por ter de deixar a cidade depois de tê-la olhado apenas de relance.
Sucede, no entanto, de permanecer em Fílide e passar ali o resto dos dias. A cidade logo se desbota, apagam-se os florões, as estátuas sobre as mísulas, as cúpulas. Como todos os habitantes de Fílide, anda-se por linhas em ziguezague de uma rua para a outra, distingue-se entre zonas de sol e zonas de sombra, uma porta aqui, uma escada ali, um banco para apoiar o cesto, uma valeta onde tropeça quem não toma cuidado. Todo o resto da cidade é invisível. Fílide é um espaço em que os percursos são traçados entre pontos suspensos no vazio, o caminho mais curto para alcançar a tenda daquele comerciante evitando o guichê daquele credor. Os passos seguem não o que se encontra fora do alcance dos olhos mas dentro, sepultado e cancelado: se entre dois pórticos um continua a parecer mais alegre é porque trinta anos atrás ali passava uma moça de largas mangas bordadas, ou então é apenas porque a uma certa hora do dia recebe uma luz como a daquele pórtico de cuja localização não se recorda mais.
Milhões de olhos erguem-se diante de janelas pontes alcaparras e é como se examinassem uma página em branco. Muitas são as cidades como Fílide que evitam os olhares, exceto quando pegas de surpresa."
Assinar:
Postagens (Atom)