"Um raio de luz me atravessa a alma:preciso de companheiros. mas vivos, enão de companheiros mortos ecadáveres, que levo para onde quero.preciso de companheiros, mas vivosque me sigam - porque desejemseguir-se a si mesmos – para ondequer que eu vá.Um raio de luz me atravessa a alma:não é à multidão que Zaratustra devefalar, mas a companheiros! Zaratustranão deve ser pastor e cão de umrebanho!Para desgarrar muitos do rebanho, foipara isso que vim. O povo e o rebanhoirritam-se comigo. Zaratustra quer serchamado de ladrão pelos pastores.Eu os denomino pastores, mas eles a simesmos se consideram os fiéis daverdadeira crença! Vede os bons e osjustos! A quem odeiam mais? A quemlhes despedaça as tábuas de valores,ao infrator, ao destruidor. É este, porém,o criador.O criador procura companheiros, nãoprocura cadáveres, rebanhos, nemcrentes; procura colaboradores queinscrevam valores novos ou tábuasnovas.O criador procura companheiros paraacompanhá-lo; porque tudo estámaduro para a ceifa. Faltam-lhe,porém, as cem foices, e por isso arrancaespigas, contra sua vontade.Companheiros que saibam afiar as suasfoices, eis o que procura o criador.Chamar-lhes-ão destruidores edesprezadores do bem e do mal, maseles hão de ceifar e descansar.Colaboradores que ceifem e descansemcom ele, eis o que busca Zaratustra.Que se importa ele com rebanhos,pastores e cadáveres?E tu, primeiro companheiro meu,descansa em paz! Enterrei-te bem, natua árvore oca, deixo-te bem defendidodos lobos.Separo-me, porém, de ti; já passou otempo. Entre duas auroras me iluminouuma nova verdade.Não devo ser pastor nem coveiro.Nunca mais tornarei a falar ao povo;pela última vez falei com um morto.Quero unir-me aos criadores, aos quecolhem e se divertem; mostrar-lhes-ei oarco-íris e todas as escadas que levamao Super-homem.Entoarei o meu cântico aos solitários eaos que se encontram juntos na solidão;e a quem quer que tenha ouvidos paraas coisas inauditas confranger-lhe-ei ocoração com a minha ventura.Caminho para o meu fim; sigo o meucaminho; saltarei por cima dosnegligentes e dos retardados. Destamaneira será a minha marcha o seufim!"
Nietzche
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