segunda-feira, 3 de novembro de 2008

01/11/2008 A Praça e a caneta o papel e eu se encontram.

Madrugada quente. Após ver na TV um programa sobre curtas de Rogério Sganzerla e me lembrar bastante do amigo Max – curta H.Q, resolvi sair para comprar um cigarro e dar um role até a loja de conveniência que fica em frente à prefeitura. No caminho de volta- comprei também um isqueiro porque esqueci a caixa de fósforo – enquanto fumava pela rua pensei: “Por que só se sai para comprar?” É sempre do lugar conhecido para o lugar com vendedores, bilheteiros, cantores e garçons – todos uniformizados – com trocos, “boa noite” e “obrigado”.
Então entrei em casa, peguei caneta e papel e cá estou no meio desta praça - ela está toda iluminada.
Em volta deste enorme quadrado passam carros, passa gente. O tilintim do mensageiro dos ventos chega até meus ouvidos, vindo da janela de um destes enormes prédio que rodeiam a praça.
... Mudo de lugar. Porque aqui na praça apareceu um enorme morcego voando, assim como em Assis. Me lembrei do amigo Rafa e eu correndo agachados da praça de Assis em direção à antiga casa.
Agora estava pensando em o que iria escrever e passou um moço e disse:
-Me arruma um cigarro aê, irmão?
Respondi “lógico”. Ele acendeu, agradeceu “obrigado, irmão” e continuou a andar vendo pelo ambiente se encontrava latas para juntar a outras latas que carregava em um saco.
Muitos carros circulam em torno da praça. Não se vê quem está dentro dos carros. Se vê o carro, o farol e vidros meio abertos que apontam nuances espretiadas. Ouve-se o barulho dos pneus roçando o chão e às vezes sons de origem humana: música e vozes. Nos carros de hoje pouco se escuta dos motores.
Perto daqui há um ponto de taxistas, em roda conversam.
Descanso a caneta...
Com exceção do moço do cigarro, ninguém mais cruzou a praça. Eu passei, sentei, levantei, sentei de novo e cá estou. Ninguém mais parou na praça, e ela é tão bonita. As praças, a praça pública sendo lugar de estacionar o corpo.
Acredito que está na hora de sairmos de nossas casas para sentar um pouco nas praças. Imagino se em cada banco estivesse pessoa. São bancos destes de praça mesmo, de madeira com braços circulares de ferros. O engraçado é que é difícil imaginar pessoas. Qualquer um podia estar sentado nesses bancos e ao mesmo tempo ninguém podia estar sentado nesses bancos.
A essa hora as pessoas estão em suas casas ou por aí –Lembro que deve ser por volta de umas 2:30 da madrugada de sábado para domingo –menos nessa praça.
Ultimamente estou com menos medo das pessoas, dos encontros. Estão sendo tão diversos e muitas vezes surpreendentes e inovadores. Não que sejam sempre agradáveis, vezes são hostis e ríspidos. É que aquém de toda a imensidão das coisas produzidas –e daí penso em idéias, sensações, sentimentos e mais um monte de outras coisas que nomeio –são simples encontros. Com o que de mais belo possa se pensar da palavra “simples”. E é com essa simplicidade também presente na vida com seus encontros que termino esse texto aqui nesta bela praça.
...
Levanto e deixo um pequeno bilhete no banco...
“Estive sentado neste banco desta praça hoje, sábado, numa madrugada muito agradável. Este momento foi inspirador para a vida. Espero que ao ler este bilhete algo mude em seu olhar, e com isso sinta-se mais à vontade em habitar o mundo. Somos todos humanos e o medo não é nossa qualidade mais bela. Boa noite.”

Nenhum comentário: