Há muito tempo que eu saí de casa
Há muito tempo que eu caí na estrada
Há muito tempo que eu estou na vida
Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz
Principalmente por poder voltar
A todos os lugares onde já cheguei
Pois lá deixei um prato de comida
Um abraço amigo, um canto prá dormir e sonhar
E aprendi que se depende sempre
De tanta, muita, diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas
E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho por mais que pense estar
É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração
E aprendi ...
(Gonzaguinha)
Época de fechamento pra balanço....casa dos pais.....
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
sábado, 13 de dezembro de 2008
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Bagagem
A mala: feita de costuras que pudessem sustentar tamanha diversidades, densidades e que em si trouxesse um espaço que coubesse o invisível e todos os buracos e vazios que ainda trago em mim. Uma mala em que os objetos que nela habita pudessem circular sem que se sentissem apertados, que pudessem se combinar, que a acomodação não resultasse em perda de volume, mas em aconchego de estar juntos.
Estar preso em uma mala. Considerar um contorno que limita, mas assim como diz Deleuze contorno que possibilita combinação finita e ilimitada. Pensemos o corpo como esta mala, resultado do encontro de um espermatozóide com um óvulo, onde um certo número de cromossomos encontrou outro certo número de cromossomos, que se combinaram e assim se deu cada um, seres únicos, singulares- fez se os corpos. E é essa mala que levo, meu corpo e tudo que lhe atravessa, ora virando carne, ora pedindo passagem, ora transformando-se em carne que pede passagem.
Corpo-mala sempre pronto a se deslocar. A mala é sempre um convite a se movimentar por outros espaços: viagem. Quando o corpo se faz como tal é feito um convite para que ele viaje pela vida. Para que se nasce? Para perambular pelos afetos, para ir de encontro com outros viajantes, para ser extraviado e muitas vezes para se perder completamente, ou seja, morrer.
Mala pesada de se carregar sozinho, viagem por espaços desconhecidos onde sentimos medo, sem saber qual é o caminho seguro e correto. Viagem sem local de chegada, sem local onde podemos nos encostar sem perigo de que nos roubem nossos conteúdos, sem que nos coloquem bagagem excessiva que nos deixem apertados.
O que trazemos em nossas malas (corpos) até então? Registros de uma vida que interagiu com lugares, pensamentos, ações, deslocamentos e vibrações. Pensar esta viagem como encontro com múltiplos relevos. Relevos pensados como formas que se destoam da chapação vista como natureza dada, relevos que se modificam assim como as montanhas que se tornam areia, como as larvas vulcânicas que se tornam rochas.
Mala pesada de se carregar sozinho. Sentir que por mais impossível que pareça trazer consigo um conteúdo que ninguém compartilha e perceber que no ato em que este conteúdo é compartilhado com outros viajantes fica mais leve o caminhar.
O que você leva em sua mala? Que “absurdo” é este que quando se torna público ganha um ar de utopia ativa? Você imaginaria há alguns anos atrás que grandes muralhas que trancafiavam pessoas pudessem deixar de existir? Eram pensamentos descompassados com toda uma sociedade que imaginava que o melhor jeito de lidar com a loucura era isolá-la –delírios de uma época?
Neste ano de aprimoramento penso agora que minha mala-corpo tem que ser costurada de vários tecidos, lã, lona e algodão. A linha que irá costurar também não deve ser única: Às vezes firme como linha de pescar para romper com anzóis buracos ainda não abertos, às vezes delicada como fios de cabelo, carregada de vida, de sensibilidade, arrancada de couro que sente dor ao se puxar, ao se fazer instrumento do fazer.
Assim como a mala que descrevo, Deleuze conceitua como estilo toda a singularidade encarnada. Desta experiência carrego a possibilidade de continuar levando uma mala em que nela contenha um mundo onde destoar dos outros modos de ser não seja doença. Em que o simples fato de viver é embutido de um repertório onde se revezam e se complementam as alegrias e o sofrer, onde quando o corpo-mala pesa há saídas para levar consigo toda a carga que se diz de um acumulado de vida, e que este acumulado não é feio e nem precisa ser substituído por outra ordem que se apresenta como melhor. Quando a mala pesa é necessário parcerias que pensem no rearranjo e alças que compartilhem o locomover dificultoso.
Estar preso em uma mala. Considerar um contorno que limita, mas assim como diz Deleuze contorno que possibilita combinação finita e ilimitada. Pensemos o corpo como esta mala, resultado do encontro de um espermatozóide com um óvulo, onde um certo número de cromossomos encontrou outro certo número de cromossomos, que se combinaram e assim se deu cada um, seres únicos, singulares- fez se os corpos. E é essa mala que levo, meu corpo e tudo que lhe atravessa, ora virando carne, ora pedindo passagem, ora transformando-se em carne que pede passagem.
Corpo-mala sempre pronto a se deslocar. A mala é sempre um convite a se movimentar por outros espaços: viagem. Quando o corpo se faz como tal é feito um convite para que ele viaje pela vida. Para que se nasce? Para perambular pelos afetos, para ir de encontro com outros viajantes, para ser extraviado e muitas vezes para se perder completamente, ou seja, morrer.
Mala pesada de se carregar sozinho, viagem por espaços desconhecidos onde sentimos medo, sem saber qual é o caminho seguro e correto. Viagem sem local de chegada, sem local onde podemos nos encostar sem perigo de que nos roubem nossos conteúdos, sem que nos coloquem bagagem excessiva que nos deixem apertados.
O que trazemos em nossas malas (corpos) até então? Registros de uma vida que interagiu com lugares, pensamentos, ações, deslocamentos e vibrações. Pensar esta viagem como encontro com múltiplos relevos. Relevos pensados como formas que se destoam da chapação vista como natureza dada, relevos que se modificam assim como as montanhas que se tornam areia, como as larvas vulcânicas que se tornam rochas.
Mala pesada de se carregar sozinho. Sentir que por mais impossível que pareça trazer consigo um conteúdo que ninguém compartilha e perceber que no ato em que este conteúdo é compartilhado com outros viajantes fica mais leve o caminhar.
O que você leva em sua mala? Que “absurdo” é este que quando se torna público ganha um ar de utopia ativa? Você imaginaria há alguns anos atrás que grandes muralhas que trancafiavam pessoas pudessem deixar de existir? Eram pensamentos descompassados com toda uma sociedade que imaginava que o melhor jeito de lidar com a loucura era isolá-la –delírios de uma época?
Neste ano de aprimoramento penso agora que minha mala-corpo tem que ser costurada de vários tecidos, lã, lona e algodão. A linha que irá costurar também não deve ser única: Às vezes firme como linha de pescar para romper com anzóis buracos ainda não abertos, às vezes delicada como fios de cabelo, carregada de vida, de sensibilidade, arrancada de couro que sente dor ao se puxar, ao se fazer instrumento do fazer.
Assim como a mala que descrevo, Deleuze conceitua como estilo toda a singularidade encarnada. Desta experiência carrego a possibilidade de continuar levando uma mala em que nela contenha um mundo onde destoar dos outros modos de ser não seja doença. Em que o simples fato de viver é embutido de um repertório onde se revezam e se complementam as alegrias e o sofrer, onde quando o corpo-mala pesa há saídas para levar consigo toda a carga que se diz de um acumulado de vida, e que este acumulado não é feio e nem precisa ser substituído por outra ordem que se apresenta como melhor. Quando a mala pesa é necessário parcerias que pensem no rearranjo e alças que compartilhem o locomover dificultoso.
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